sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO VIII - O Mistério da Virgem Maria, Mãe de Deus


“Nós vos louvamos, bendizemos e glorificamos pelo mistério da Virgem Maria, Mãe de Deus.” (Prefácio do Advento, II A) 

  

Caros irmãos, 

  

É chegada a tão esperada Semana Santa do Natal. Da mesma forma que na Páscoa, os sete dias que antecedem a Noite Santa são especialmente preparados, com liturgia própria (e prioritária), numa assim chamada Semana Santa. Em todos os dias, escutamos textos do Evangelho que relatam as aparições do anjo Gabriel a José, Zacarias e Maria, bem como a visitação a Isabel e o nascimento de João Batista. É um período riquíssimo de nossa Sagrada Liturgia, assim como acontece na Semana Santa da Páscoa. Especialmente os comentários patrísticos do Ofício das Leituras, tão consagrados pela Tradição da Igreja, têm uma especial predileção por dirigir as atenções à Virgem Maria, aquela grávida mulher, que sem o toque de homem algum, concebeu o Filho de Deus em seu ventre. Também os prefácios da Missa e as orações dos dias apontam para o mistério da Virgem, Mãe de Deus. 

  

E assim como alegremente nos prepara com essa Semana Santa, o Natal apenas se inicia no dia 25 de dezembro, mas se estende com uma oitava (uma semana inteira como se fosse o único dia e Natal) e mais 4 festas: a da Sagrada Família, a de Santa Maria Mãe de Deus, a da Epifania do Senhor e a do Batismo do Senhor, completando o ciclo em cerca de 2 semanas e meia. É um mistério muito grande para ser celebrado numa só noite ou num só dia. A própria solenidade do Natal prevê 4 missas diferentes, no decorrer de suas 30 horas (6 da véspera e 24 do dia): a Vigília, apenas festiva, mas não solene, no fim da tarde do dia 24; a Missa da Noite, também conhecida como Missa do Galo, esta sim, solene (à meia-noite, preferencialmente, ou em torno dela); a Missa da Aurora, também solene (iniciando antes do raiar do sol do dia 25); e, enfim, solenemente, a principal, a Missa do Dia, celebrada bem após o nascer do sol do dia 25, em qualquer das outras horas. 

  

Mas o que me cativa hoje e me faz escrever esta singela mensagem é olhar para a Virgem Maria, sob o título que, pessoalmente, mais aprecio: Mãe de Deus. No ícone do Santo Natal, ela aparece contemplativa, mas seu olhar convida a contemplar a grandiosidade desse Mistério. Sua mão, como sempre, aponta para o Cristo. Mas é pelo título de Mãe de Deus que Maria me atrai a ela. 

  

Certa vez, após a passagem de nosso filho Gabriel José, estive pela primeira vez na Igreja Abacial do Mosteiro São João, em Campos do Jordão, em fevereiro de 2004. Lá, derramei-me em lágrimas ao ver o ícone da Eleoúsa, em grego, a Mãe da Ternura, ou, como lá está escrito em latim, Mater misericordiae. Não consegui ficar de pé, ajoelhei-me, tive uma experiência fortíssima sob o olhar da Mãe da Ternura, uma das mais fortes de minha vida. Também ela viu seu filho morrer. Mas seu olhar vai mais adiante... 

  

Seu olhar penetrante e misterioso lança primeiramente a sua ternura no olhar de quem a contempla e lembra a nossos tempos corridos a necessidade de contemplar o semblante de quem nos olha. Seu olhar poderia ser um reflexo do olhar de Deus sobre o mundo, soberano, mas humilde; sereno, mas ligeiramente preocupado e cheio de cuidados sobre Aquele que carrega nos braços. Mas o intrigante é que o olhar não se dirige diretamente a Cristo, mas à humanidade que contempla o ícone. 

  

Carregando a Cristo nos braços, Maria carrega a humanidade inteira. Em seus braços está o Futuro, o Fim, o Centro de tudo. É aquele Menino, que é Deus, e carrega um rolo, aquele rolo do Apocalipse, que somente Ele é digno de abrir. Em outras palavras, somente Cristo é chave de leitura para as Escrituras, e não somente para elas, mas para o próprio livro de nossas vidas. Aquele Menino traz nos braços tudo isso. Seu nascimento traz para a humanidade um sentido, porque se o Sentido de tudo é Este que se encontra nos braços de Maria, tudo, absolutamente tudo, inclusive a morte e tudo aquilo que parece ser sem sentido no nosso dia-a-dia é habitado pelo sentido. Ele, em sua encarnação, superior a todas as montanhas, físicas, morais e espirituais, desceu até os mais profundos abismos, físicos, morais e espirituais. Não há lugar nem tempo nesta nossa vida em que não esteja Cristo Senhor, aquele mesmo que nasceu em Belém e já muito antes, bem antes, sem ela saber, havia encantado o coração da Virgem. 

  

E somente porque trouxe de maneira absoluta o Verbo de Deus em seu coração, nas mais profundas dimensões de seu ser, é que pôde se tornar grávida de Deus. Em sua ternura, Deus dirige uma palavra a ela, através do grande mensageiro, o Arcanjo Gabriel, como se a pedisse em casamento: “Kaire, kecharitómene!”, ou seja “Enche-te de imensa, estupenda, inefável, incomensurável alegria, ó tu, que já estás completamente preenchida do favor, da graça e sobretudo da presença de Deus!” Todas as poesias do pós-exílio de Babilônia que os santos profetas anunciaram apontavam para este Mistério. Muito inequivocamente o Profeta Isaías, no capítulo 62, dirige uma palavra à Filha de Sião (a Jerusalém pós-exílica, livre do jugo de Babilônia) que inequivocamente os cristãos a vêem dirigida a Maria, como modelo de plenitude da alma cristã: “Nunca mais te chamarão ‘Desamparada’, nem se dirá de tua terra ‘Abandonada’; mas haverão de te chamar ‘Minha querida’, e se dirá de tua terra ‘Desposada’, porque o Senhor se agradou muito de ti, e tua terra há de ter o seu esposo. Como um jovem que desposa a bem amada, assim também, teu Construtor vai desposar-te; como a esposa é a alegria do esposo, serás, assim, a alegria do teu Deus” (Is 62,4-5). 

  

Quando tão glorioso anjo vai a Maria, Deus diz a ela tudo o que quis dizer à humanidade, a mim, a você, não apenas com palavras, mas com um gesto, o único eficaz, capaz de abrir nossa vida a algo que o mundo não pode por si mesmo oferecer. Quando o mensageiro da graça lhe vem, Deus lhe pede em casamento, mostrando que a natureza divina não existe de maneira fechada, mas apenas numa contínua e eterna abertura ao que é humano, terrivelmente humano. E nessa ocasião o anjo diz algo grandioso, aliás o próprio significado do nome do anjo: “para Deus, nada é impossível!” 

  

Se, por um lado, Maria reflete humildemente sobre sua indignidade e sobre a incapacidade de gerar sem o toque de um homem, por outro, no Mistério da Anunciação do Senhor, ela encontra a possibilidade de se abrir completamente, de tal modo a tomar o impossível como possível. Porque possibilidade não é apenas o que pode ser racionalizado pela ciência, viabilizado pela tecnologia ou mesmo delineado pelas artes, mas sempre um algo mais que se abre e recebe o nome de esperança. 

  

Assim, a fé de Maria, seu ser impregnado de uma vontade maior que a sua e que a contém se mostra em esperança, mas mesmo sem saber, já era amor. Quando o anjo lhe diz tudo o que tem de dizer, Maria prontamente diz: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim, segundo a tua palavra!” E o evangelista Lucas narra: “E o anjo retirou-se!” 

  

Sim, meus irmãos, o anjo se retira para que agora se concretizem as núpcias entre Deus e ela, entre o céu e a terra. O anjo se retira em discrição porque ali há de se dar um encontro conjugal misterioso. Esses encontros sempre são misteriosos e reservados!!! Porque assim como a vinda de qualquer um de nós à terra é um fato grandioso, um acontecimento estremecedor, a vinda do Filho de Deus como Filho do homem, no ventre de Maria, é algo infinitamente mais grandioso, estremecedor, terrificante. São Leão Magno se enche de admiração e estupor ao dizer: “Ó admirável intercâmbio: o Filho de Deus se faz Filho do homem para que os filhos dos homens se tornem filhos de Deus!” 

  

Desse momento em diante, um sinal indelével está presente na humanidade. Deus está nela, como sempre sonhou. O profeta Jeremias dizia que a aliança que seria firmada não a seria mais em tábuas de pedra, mas no coração, no íntimo do ser humano. Em Maria, dá-se o encontro íntimo entre Deus e a humanidade. 

  

Volto-me agora para a lembrança do olhar da Virgem Mãe. Que quer dizer esse olhar? Por que tanta ternura? Porque ela mesma foi o espaço para se concretizar a ternura de Deus. Há um hino antiqüíssimo, cantado nas memórias dos santos, que diz: “Jesus Cristo, ternura de Deus, por quem somos votados ao Pai”. Se Maria é a Mãe da Ternura, a Ternura é Cristo. Sim, a ternura muitas vezes manifestada num casal é simbolizada num anel, numa aliança. Aqui, a Aliança é Cristo, prova do amor de Deus para conosco, “rosto divino do homem, rosto humano de Deus”, como dizia o Servo de Deus Paulo VI, Papa. Eis a Ternura, eis a fonte do coração de Maria, eis o que transborda do olhar de Maria. 

  

E, afinal de contas, poderia ser diferente? Marcada tão intensamente pelo Santo Deus, e confirmada em sua vocação no dia da concepção de Cristo, onde lhe foi dado conhecer mais daquilo que ela mesma trazia em si, o olhar de Maria é o olhar da Ternura de Deus. Foi esse olhar que Cristo criança aprendeu a olhar. É tão impressionante! Aquele que é a “Sabedoria, saída da boca do Altíssimo” (como cantamos na tarde do dia 17) se torna um aprendiz do olhar. É esse olhar que ele lança sobre a humanidade, é esse semblante que paira sobre nós. E, se de alguma forma falamos em ira de Deus, como naquele olhar irado de um dos olhos do ícone de Cristo do Mosteiro de Santa Katarina de Alexandria do Monte Sinai, poderíamos vê-la muito bem expressa quando ele olha para Jerusalém e chora sobre ela (conforme um texto que enviei há cerca de um mês). A ira de Deus está presente no olhar preocupado de Maria, assim como no de Cristo, que chora as desventuras humanas. Tudo o que quer é apenas que sejamos plenos! 

  

Voltemos mais uma vez ao olhar de Maria. Foram esses olhos, como que olhos do coração, que contemplaram o anúncio do anjo, a alegria de Isabel, o acolhimento de José, o nascimento do Santo Profeta João Batista e, na noite Santa, seu parto, cantado pelos anjos, admirado pelos pastores, adorado pelos Magos, luminoso como a estrela, glorioso, como o próprio Deus. 

  

Caros irmãos, nesta Semana Santa do Natal, em que visitamos mais freqüentemente a imagem da Virgem Mãe de Deus, seja nas pinturas ou esculturas, seja na prece, especialmente as novenas de Natal e o Santo Rosário, seja ainda nos textos da Sagrada Escritura, da Tradição e da Liturgia, quero desejar a todos vocês, que fazem, parte de minha vida, e são tão amados por esse Deus de desígnios tão cheios de graça, ternura e misericórdia, um Feliz e Santo Natal, pelas mãos da Virgem, Mãe de Deus! 

Que a Noite Santa seja um marco na vida de todos, lembrando que Ele nos amou por demais. Ou, como diz uma versão do “Adéste, fidéles!”, em português: “tanto amou-nos; quem não há de amá-lo?” 

  

A Ele, a glória, no céu e na terra, no tempo e na eternidade, hoje e pelos séculos dos séculos. Amém! 

  
Emerson Sarmento Gonçalves
a 19 de dezembro de 2008, Semana Santa do Natal.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO VII - Momento histórico


Embora já faça algum tempo que este fato ocorreu, merece menção.

 

S. Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla participa, em Roma, da XII Assembléia Geral Ordinária dos Bispos


No dia 18 de outubro de 2008, às 17 horas, na Capela Sistina, por ocasião da participação do Patriarca Ecumênico, na XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, S. Santidade Bento XVI presidiu a celebração das Primeiras Vésperas do XXIX domingo do Tempo Comum ‘per annum’. Dela participaram S. Santidade Bartolomeu I, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, os membros da Presidência do Sínodo dos Bispos, 60 Cardeais e Patriarcas latinos, 170 Arcebispos e Bispos, 200 presbíteros, religiosos e leigos participantes da XII Assembléia Geral Ordinária dos Bispos.


INTERVENÇÃO DE S. S. BARTOLOMEU I
PATRIARCA ECUMÊNICO DE CONSTANTINOPLA 

Tradução: Pe. Paulo Augusto Tamanini 

Santidade,
Padres Sinodais,

 

É, ao mesmo tempo, com humildade e entusiasmo, que acolho o amável convite de Sua Santidade e dirijo os meus melhores auspícios a esta XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos - um encontro histórico dos Bispos da Igreja Católica Romana de todo o mundo-, reunidos neste lugar para meditar sobre a «Palavra de Deus» e tratar sobre a experiência e a expressão desta Palavra «na vida e na missão da Igreja». Este gentil convite de Sua Santidade, a quem modestamente falamos, é um gesto pleno de significado e importância - ouso dizer: um importantíssimo evento histórico. É a primeira vez, na história, que é dado a um Patriarca Ecumênico a oportunidade de se dirigir a um Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Romana e, assim, fazer parte da vida de sua Igreja-irmã, em seu mais alto nível. Vemos isto como uma manifestação da obra do Espírito Santo que guia nossas Igrejas para que se aproximem e aprofundem suas relações, respectivamente, um passo importante para a restauração de nossa plena unidade. 

É de conhecimento geral que a Igreja Ortodoxa atribui ao sistema sinodal uma fundamental importância eclesiológica. Com o primado, a «‘sinodalidade» constitui a coluna vertebral do governo e da organização da Igreja. Como bem expressou nossa Comissão Internacional para Unidade do Diálogo Teológico entre nossas Igrejas, no Documento de Ravena, esta interdependência entre o Primado e a Sinodalidade perpassa todos os níveis da Igreja: local, regional e universal. Por isso, ao ter no dia de hoje o privilégio de nos dirigir ao vosso Sínodo, cresce a nossa esperança de que chegue o dia em que ambas as Igrejas convirjam plenamente sobre o papel do primado e da sinodalidade na vida da Igreja, matéria que é hoje objeto de estudos de nossa Comissão Teológica. 

O tema, ao qual este Sínodo dos Bispos dedica seus trabalhos, tem importância crucial, não só para a Igreja Católica Romana, mas também para todos aqueles que são chamados a testemunhar Cristo em nosso tempo. Missão e evangelização continuam sendo um dever permanente da Igreja de todos os tempos e lugares. De fato, são partes constitutivas da natureza da Igreja que, por isso, é denominada «Apostólica», no sentido de sua fidelidade aos ensinamentos originais dos apóstolos, proclamando a Palavra de Deus em todos os tempos e em todo contexto cultural. A Igreja precisa, então, redescobrir a Palavra de Deus em cada geração, e anunciar com renovados vigor e persuasão ao nosso mundo contemporâneo, que tem sede da mensagem de paz, da esperança e da caridade divina.

Este dever de evangelização, com efeito, será grandemente valorizado e reforçado na medida em que todos os cristãos sejam capazes de realizá-lo a uma só voz e numa só e única Igreja. Em sua prece ao Pai, antes de sua Paixão, Nosso Senhor expressou claramente que a unidade da Igreja é indestrutível, no que concerne à sua missão: «Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste». (Jo 17,21). Por isso, o Sínodo abre suas portas aos delegados da fraternidade ecumênica, para que todos estejamos conscientes da missão comum de evangelizar, bem como, para que conheçamos as dificuldades e problemas de sua execução no mundo atual. Sem dúvidas, este Sínodo estudou o tema da Palavra de Deus em profundidade, em seus aspectos teológicos, práticos e pastorais. 

Nesta nossa modesta intervenção, compartilhamos convosco algumas reflexões sobre o tema deste evento, delineando o modo como, ao longo de séculos, a Tradição Ortodoxa o tem enfocado e, em particular, seguindo o ensinamento da patrística grega. Quiséramos nos concentrar mais concretamente em três aspectos: a escuta e o anúncio da Palavra de Deus através das Sagradas escrituras; a contemplação da Palavra de Deus na natureza e na beleza dos ícones; e, por último, a experiência e a partilha da Palavra de Deus na comunhão dos santos e na vida sacramental da Igreja. Pensamos que estes aspectos sejam cruciais para a vida e a missão da Igreja.

Para tanto, façamos uso da rica Tradição Patrística, elaborada no início do terceiro século, para expor a doutrina «dos sentidos espirituais». Escutar, contemplar e tocar a Palavra de Deus, são maneiras espirituais de perceber o único Mistério Divino. Com base no livro dos Provérbios (Prov 2,5), a propósito da «divina faculdade de percepção», Orígenes de Alexandria afirma: «Os sentidos se revelam como: visão para contemplar as formas imateriais, audição para discernir as vozes, paladar para saborear o pão vivo, olfato para sentir a fragrância espiritual e o tato para tocar a Palavra de Deus, que é aproveitada por cada uma das faculdades de nossa alma». Os sentidos espirituais são descritos de maneiras diversas, tais como: «cinco sentidos da alma», «faculdades divinas», ou «faculdades interiores», «faculdades do coração» ou «faculdades do espírito». Esta doutrina inspirou a teologia dos Padres Capadócios (especialmente Basílio, o Grande e Gregório de Nissa), da mesma forma, os Padres do Deserto (especialmente Evágrio Pôntico e Macário, o Grande)

1. A Escuta e o Anúncio da Palavra de Deus através das Escrituras

Em cada celebração da Divina Liturgia de São João Crisóstomo o celebrante, que preside a Eucaristia, reza: «que sejamos dignos de escutar o Santo Evangelho». «O que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida» (1Jo 1,1), não por nossas faculdades ou direitos, como seres humanos que somos, mas como um privilégio e um dom que herdamos como filhos do Deus Vivente. A Igreja cristã é, antes de tudo, uma Igreja da Escritura. Ainda que os métodos de interpretação variem de um Pai da Igreja para outro, de uma Escola para outra, no Ocidente ou no Oriente, a Escritura foi sempre acolhida como realidade viva e jamais como um livro morto. Portanto, neste contexto de fé viva, a Escritura é o testemunho vivo da História vivida, da relação de Deus vivo com seu povo vivo.

A Palavra «que falou pelos Profetas» (Credo Niceno-Constantinopolitano) é dita para que seja escutada e produza seus efeitos. É, antes de tudo, uma comunicação oral e direta que tem como destinatário o ser humano. O texto escrito é, portanto, derivado e secundário e está sempre a serviço da Palavra proclamada. Ela não é transmitida de maneira mecânica, mas comunicada de geração em geração e, por isso, é Palavra viva. Pela boca do Profeta Isaias, o Senhor promete: «Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão». (Is 55,10-11) 

Ademais, como explica São João Crisóstomo, a Palavra divina demonstra profunda consideração para com a diversidade pessoal e contextos culturais de quem a escuta e a acolhe. A adaptação da Palavra divina à capacidade específica pessoal e ao contexto cultural particular define a dimensão missionária da Igreja que está chamada a transformar o mundo pela Palavra. No silêncio, como através de declarações, na oração como na ação, a Palavra Divina é endereçada ao mundo inteiro («De todas as nações fazei discípulos» Mt 28,19), sem distinção de raça, cultura, gênero ou classe.

Quando estamos determinados a cumprir o mandato divino, sentimo-nos seguros, pois, como disse o Senhor: «Eu estarei convosco todos os dias» (Mt 28,20). Somos chamados a proclamar a Palavra Divina em todas as línguas, pois, «com os fracos, tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo». (1Cor 9,22).

Como discípulos da Palavra de Deus, hoje, mais do que em todos os tempos, temos o imperativo de oferecer perspectivas – para além do social, do político e do econômico – na medida da necessidade, de erradicar a pobreza, promover o equilíbrio do mundo global, combater o fundamentalismo e o racismo e promover a tolerância religiosa num mundo em conflito. 

Ao responder às necessidades dos pobres, dos marginalizados e vulneráveis deste mundo, a Igreja pode revelar–se como referência marcante no espaço da comunidade global. Embora a linguagem teológica da religião e da espiritualidade seja diferente dos vocabulários técnicos da economia e da política, as barreiras que, num primeiro momento, parecem separar as preocupações religiosas (tais como pecado, salvação e espiritualidade) dos interesses pragmáticos (tais como negócio, comércio e política) não são impenetráveis face aos muitos desafios da globalização e da justiça social.

No que concerne ao meio ambiente, a paz, a pobreza, a fome, a educação e a saúde, há atualmente uma maior preocupação e responsabilidade partilhada que é percebida como uma característica forte de pessoas de fé, mesmo que suas perspectivas sejam expressamente de cunho secular ou laica. De nenhuma maneira nosso compromisso para com estas questões reduz ou suprime as diferenças que existem entre as várias disciplinas ou está em desacordo com aqueles que vêem o mundo de maneira distinta. Apesar disso, hoje se favorece uma responsabilidade crescente e comum em vista do bem estar da humanidade. É o encontro entre indivíduos e instituições que atuam no mundo como um bom sinal. É o compromisso que acentua a suprema vocação e missão dos discípulos e seguidores da Palavra de Deus, que transcende as diferenças políticas e religiosas para transformar, por inteiro, o mundo visível para a glória de Deus invisível.

2. Contemplar a Palavra de Deus: a Beleza dos ícones e da Natureza.

Em nenhum outro lugar o Invisível se faz mais visível que na beleza da iconografia e na maravilha da Criação. Nas palavras do defensor das imagens sagradas, São João Damasceno: «Enquanto Criador do céu e da terra, Deus, a Palavra, foi o primeiro que pintou e retratou os ícones». Em cada pincelada de um iconógrafo - como em cada palavra de um conceito teológico, em cada nota musical de uma salmodia, em cada pedra talhada de uma pequena capela ou de uma grande catedral é expressa a Divina Palavra da criação que louva a Deus em cada coisa e em cada ser vivente (Sl 150,6).

Ao instituir as imagens sagradas, o Sétimo Concilio Ecumênico de Nicéia não se preocupava com a arte religiosa; estava instituindo e confirmando as primeiras definições sobre a plenitude humana da Palavra de Deus. Os ícones nos recordam visivelmente nossa vocação divina; convidam-nos a que nos elevemos para além de nossas triviais preocupações e ínfimas reduções do mundo. Alenta-nos a buscar o extraordinário no realmente ordinário; alenta-nos a estar plenos do mesmo assombro que caracterizou a maravilha divina no Gênises: «Viu Deus quanto tudo havia feito e viu que tudo era muito bom» (Gn 1,31). A palavra grega para significar «bondade» é «κaλλóς» que remete - etimologicamente e simbolicamente - ao sentido de «chamado». Os ícones sublinham a missão fundamental da Igreja, de reconhecer que todas as pessoas e todas as coisas foram criadas para ser, e estão chamadas a ser boas e belas.

Com efeito, os ícones nos recordam outro modo de ver as coisas, outro modo de experimentar realidades, outro modo de resolver conflitos. Somos chamados a assumir aquilo que a hinografia do Domingo de Páscoa denomina de «outro modo de vida», uma vez que temos nos comportado de maneira arrogante e desastrosa com a criação. Temos recusado contemplar a Palavra de Deus presente nos oceanos de nosso Planeta, nas árvores de nossos continentes e nos animais de nossa terra. Temos renegado nossa verdadeira natureza que nos convida a escutar a Palavra de Deus na criação, se desejamos ser partícipes da natureza divina (2Pd 1,4) Como podemos ignorar as amplas implicações da Palavra Divina que se fez carne? Por que não conseguimos perceber a natureza criada como extensão do corpo de cristo? 

Os teólogos cristãos do Oriente sempre ressaltaram as proporções cósmicas da encarnação divina. A Palavra encarnada é intrínseca à criação que veio à existência através da palavra divina. São Máximo, o Confessor, insiste na presença da Palavra de Deus em todas as coisas (Col 3,11); o Logos divino está no centro do mundo revelando misteriosamente seu princípio original e sua finalidade última (1Pd 1,20). Este é o mistério descrito por Santo Atanásio de Alexandria: «o Logos não está contido em nada, mas contém todas as coisas; está em cada coisa, porém, fora de cada coisa» (...) o Primogênito de todo o mundo em cada um de seus aspectos.

O mundo inteiro é um «Prólogo ao Evangelho de São João». E quando a Igreja não reconhece as dimensões mais amplas, cósmicas da Palavra de Deus, restringindo suas preocupações aos problemas puramente espirituais, ela falha em sua missão de implorar a Deus para que transforme – sempre e em todo lugar «em todas as partes de seu domínio» – todo o universo poluído. Não há quem não se maravilhe quando, na celebração pascal, em seu cume, os cristãos ortodoxos entoam: «agora tudo está repleto de luz: o Céu, a terra e o inferno. Alegre-se toda a criação!» 

Toda «ecologia profunda» e autêntica está indissoluvelmente unida à teologia profunda. »Mesmo uma pedra» – diz São Basílio, o Grande - «ostenta o selo da Palavra de Deus». A mesma verdade se aplica a uma formiga, a uma abelha, a um mosquito; aos menores seres da criação. Pois, Ele se estende do grande céu aos imensos mares; Ele que criou a ínfima cavidade do aguilhão de uma pequena abelha. Recordar nossa pequenez na vasta e maravilhosa criação de Deus sublinha, unicamente, nosso papel central no desígnio de Deus para a salvação do mundo inteiro. 

3. Tocar e compartilhar a Palavra de Deus: a Comunhão dos Santos e os Sacramentos da Vida

A Palavra de Deus se «move para fora de si mesma, em êxtase» (Dionísio, o Aeropagita) de modo persistente, buscando apaixonadamente «habitar entre nós» (Jo 1,14), para que o mundo possa ter vida em abundância (Jo 10,10). 

A misericórdia compassiva de Deus é derramada e compartilhada «para que multiplique os objetos de sua beneficência» (São Gregório, o Teólogo). Deus assume tudo o que é nosso, «tem sido provado em tudo como nós, exceto no pecado» (Hb 4,15), para nos oferecer tudo o que é de Deus e converter-nos, pela graça, em deuses. «Por vós, Ele se fez pobre a fim de enriquecer-vos por sua pobreza», escreve o grande apóstolo Paulo (2 Cor 8,9) a quem dedicamos precisamente o ano em curso. Isto é Palavra de Deus; a quem devemos gratidão e glória.

A Palavra de Deus recebe sua plena encarnação na Criação e, sobretudo, no Sacramento da Sagrada Eucaristia. Nela, a Palavra de Deus se faz carne e nos permite, não simplesmente ouvi-La ou vê-La, mas tocá-La com nossas próprias mãos, como declara São João (1 Jo 1,1), fazendo-nos partícipes de seu próprio Corpo e Sangue (σύσσωμοι και σύναιμοι), como diz São João Crisóstomo. 

Na Sagrada Eucaristia, escutamos a Palavra e, ao mesmo tempo, a vemos e a compartilhamos (κοινωνία). Não é mera casualidade que nos primeiros documentos sobre a Eucaristia, como o livro da Revelação e a Didaqué, a Eucaristia tenha sido associada à profecia, e os bispos que a presidiam eram vistos como os sucessores dos Profetas (Policarpo, o mártir). 

A Eucaristia já foi descrita por São Paulo como anúncio da morte de Cristo e de sua Segunda Vinda (1Cor 11). Posto que a finalidade última da Escritura seja essencialmente a proclamação do Reino e o anúncio das realidades escatológicas, a Eucaristia é uma antecipação do Reino e, neste sentido, é a proclamação da Palavra por excelência. Na Eucaristia, Palavra e Sacramento se convertem numa única realidade. A Palavra deixa de ser «palavras» e se faz «pessoa», encarnando-se em todos os seres humanos e em toda a Criação. 

Na vida da Igreja, o esvaziar-se de si mesmo de forma incomensurável (κένωσις) e o compartilhar generoso (κοινωνία) do Logos divino se reflete na vida dos Santos, como experiência tangível e expressão humana da Palavra de Deus em nossa comunidade. Neste sentido, a Palavra de Deus se converte em Corpo de Cristo, crucificado e glorificado ao mesmo tempo. Conseqüentemente, o Santo vive uma relação orgânica com o Céu e com a Terra, com Deus e com a Criação. Numa luta ascética, o santo reconcilia a Palavra e o mundo. Mediante o arrependimento e a purificação, o santo se enche de compaixão por todas as criaturas, o que corresponde à suprema humildade e perfeição, como sublinha Santo Isaac, o Sírio.

Por isso, o santo ama incondicionalmente, com uma intensidade e magnitude irresistíveis. Nos Santos conhecemos a Palavra de Deus, uma vez que, como afirma São Gregório Palamás, «Deus e seus Santos compartilham a mesma glória e esplendor». Na discreta presença de um santo descobrimos que a Teologia e a ação coincidem. No amor compassivo de um santo fazemos a experiência de Deus como «nosso Pai» e da Sua misericórdia como «eterna» (Sl 135). O Santo é consumido pelo fogo do amor de Deus, e, por isso, ele comunica a graça e não tolera a menor manipulação ou exploração da sociedade ou da natureza. O santo faz, simplesmente, o que é justo e bom (Divina Liturgia de São João Crisóstomo), dignificando sempre a humanidade e honrando a Criação. «Suas palavras têm a força da ação e o seu silêncio tem o poder do discurso». (Santo Inácio de Antioquia).

E, na Comunhão do Santos, cada um de nós é chamado a «ser como fogo» (Apotegmas dos Padres do Deserto), para tocar o mundo com a força mística da Palavra de Deus, para que - como extensão do Corpo de Cristo – também o mundo possa dizer: «Alguém me tocou» (Mt 9,20). O mal somente poderá ser erradicado pela santidade, e não pela força. A santidade introduz na sociedade uma semente que a cura e a transforma. Alimentados com a vida dos Sacramentos e a pureza da oração somos capazes de penetrar o mistério mais recôndito da Palavra de Deus. Como no caso das placas tectônicas da crosta terrestre: basta que, nas camadas mais profundas, algo se mova milímetros, para causar perturbações e danos à superfície do planeta. Não obstante, para que aconteça esta revolução espiritual, necessitamos fazer a experiência radical da «metanóia» - uma conversão de comportamentos (atitudes), costumes e práticas - por termos usado ou violado a Palavra de Deus, os dons de Deus e a Sua Criação. Esta conversão é, evidentemente, impossível sem a Graça divina; simplesmente não conseguiremos, por maior que seja o nosso esforço e a nossa vontade. «Para os homens, isto é impossível; mas, para Deus, tudo é possível» (Mt 19,26).

Esta mudança espiritual se dá quando nosso corpo e nossa alma são enxertados profundamente na Palavra viva de Deus, quando nossas células contiverem o fluxo do Sangue vivificante que provém dos Sacramentos; quando estivermos abertos a partilhar tudo com todos.

Como nos recorda São João Crisóstomo: «o Sacramento de nosso próximo não pode estar separado do Sacramento do Altar». Lamentavelmente, temos ignorado nossa vocação e nossa obrigação de compartilhar. A injustiça social e a desigualdade, a pobreza global e a guerra, a contaminação do planeta e a sua degradação decorrem de nossa falta de habilidade ou vontade para compartilhar. Se reinvidicamos manter o Sacramento do Altar, não podemos então prescindir ou renunciar ao sacramento de nosso próximo, pois esta é condição fundamental para o cumprimento da Palavra de Deus no mundo, na vida e na missão da Igreja.

  

Queridos Irmãos em Cristo, 

Examinamos, no que foi dito, o ensinamento patrístico de cunho espiritual, analisando o poder de escuta e de anúncio da Palavra de Deus, nas Escrituras; o contemplar a Palavra de Deus através dos ícones e na Natureza, bem como, o tocar e compartilhar a Palavra de Deus nos Santos Sacramentos. Por conseguinte, para que permaneçamos fiéis à vida e à missão da Igreja, nós devemos ser pessoalmente transformados por esta Palavra. A Igreja deve ser semelhante a uma mãe que se nutre daquilo que se alimenta, ao mesmo tempo em que nutre quem dela se nutre.

O que não alimenta nem nutre alguém não poderá tão pouco sustentá-lo. Quando o mundo não compartilha a alegria da Ressurreição de Cristo, isto supõe uma acusação à nossa própria integridade e ao nosso compromisso por viver a Palavra de Deus. Antes de cada celebração da Divina Liturgia, os cristãos ortodoxos pedem que esta Palavra seja «partida e consumida, distribuída e compartilhada» em comunhão. E, «nós sabemos que passamos da morte para a Vida, porque amamos aos irmãos e irmãs» (1Jo 3,14). 

O desafio que temos diante de nós é o discernimento da Palavra de Deus face ao mal e a transfiguração, até o ultimo detalhe e ponto deste mundo, à luz da Ressurreição. A vitória já está presente no íntimo da Igreja, sempre que fazemos a experiência da graça da reconciliação e da comunhão. Embora lutemos, cada um e nós – no interior de nós mesmos e no mundo - para reconhecer o poder da Cruz, estamos começando a compreender o fato de que cada ato de justiça, cada centelha de beleza, cada palavra de verdade pode ir, gradativamente, eliminando o mal. Para além de nossos frágeis esforços temos, no entanto, a certeza de que o Espírito que «vem em socorro da nossa fraqueza», (Rm 8,26) e que permanece conosco como nosso defensor e «Paráclito» (Jo 14,6), penetrando todas as coisas e nos transformando, - como disse São Simeão, o Novo Teólogo - em tudo o que a Palavra de Deus diz a respeito do Reino: pérola, semente de mostarda, fermento, água, fogo, pão, vida e Sala do Banquete Místico. Eis aqui o poder e a graça do Espírito Santo que invocamos na conclusão de nossa intervenção, expressando a Vossa Santidade a nossa gratidão, e a cada um de vós, a nossa Bênção: 

«Rei Celestial, consolador, Espírito da Verdade, 
presente em toda parte e que preenche todas as coisas;
tesouro dos bens e doador da vida, 
vem e habita em nós, 
purifica-nos e toda a impureza 
e salva as nossas almas, Tu que és bom e amas a humanidade. 
Amém. 

 


Intervenção de S. S. o Papa Bento XVI

Depois da intervenção do Patriarca Ecumênico, S. Santidade o Papa Bento XVI, pronunciou as seguintes palavras:

Santidade,

De todo coração, quero lhe dizer «muito obrigado» por suas palavras. O aplauso dos padres sinodais é muito mais que uma expressão de cortesia, é verdadeiramente a expressão da profunda alegria espiritual e da experiência viva de nossa comunhão. Neste momento, vivemos realmente o «SÍNODO»: estamos juntos caminhando, na terra da Palavra divina, guiados por Vossa Santidade e nos maravilhamos, com grande alegria de sermos ouvintes da Palavra de Deus e haver deparado com o dom de suas palavras.

Tudo o que nos foi dito estava profundamente nutrido pelo espírito dos Santos Pais, pela Sagrada Liturgia e precisamente, por esta razão, estava também intensamente contextualizado em nosso tempo, por um grande realismo cristão que nos faz ver os desafios. Vimos que, ao ir ao coração da Sagrada Escritura, realmente encontramos nas palavras a PALAVRA; ao penetrar a palavra de Deus, abre também os olhos do mundo e das realidades de nossos dias.

E esta foi também uma experiência feliz – uma experiência de unidade, não perfeita talvez, porém, verdadeira e profunda. Pensei: vossos Santos Pais, que S. Santidade citou amplamente, são também nossos Santos Pais; e os nossos são também os vossos. Se temos Santos Pais comuns, como poderíamos entre nós, não sermos irmãos? Obrigado Santidade! Suas palavras nos acompanharão no trabalho da próxima semana, nos iluminarão e estaremos ainda durante a próxima semana e depois dela, juntos, convosco, caminhando.

Obrigado, Santidade!