sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO VIII - O Mistério da Virgem Maria, Mãe de Deus


“Nós vos louvamos, bendizemos e glorificamos pelo mistério da Virgem Maria, Mãe de Deus.” (Prefácio do Advento, II A) 

  

Caros irmãos, 

  

É chegada a tão esperada Semana Santa do Natal. Da mesma forma que na Páscoa, os sete dias que antecedem a Noite Santa são especialmente preparados, com liturgia própria (e prioritária), numa assim chamada Semana Santa. Em todos os dias, escutamos textos do Evangelho que relatam as aparições do anjo Gabriel a José, Zacarias e Maria, bem como a visitação a Isabel e o nascimento de João Batista. É um período riquíssimo de nossa Sagrada Liturgia, assim como acontece na Semana Santa da Páscoa. Especialmente os comentários patrísticos do Ofício das Leituras, tão consagrados pela Tradição da Igreja, têm uma especial predileção por dirigir as atenções à Virgem Maria, aquela grávida mulher, que sem o toque de homem algum, concebeu o Filho de Deus em seu ventre. Também os prefácios da Missa e as orações dos dias apontam para o mistério da Virgem, Mãe de Deus. 

  

E assim como alegremente nos prepara com essa Semana Santa, o Natal apenas se inicia no dia 25 de dezembro, mas se estende com uma oitava (uma semana inteira como se fosse o único dia e Natal) e mais 4 festas: a da Sagrada Família, a de Santa Maria Mãe de Deus, a da Epifania do Senhor e a do Batismo do Senhor, completando o ciclo em cerca de 2 semanas e meia. É um mistério muito grande para ser celebrado numa só noite ou num só dia. A própria solenidade do Natal prevê 4 missas diferentes, no decorrer de suas 30 horas (6 da véspera e 24 do dia): a Vigília, apenas festiva, mas não solene, no fim da tarde do dia 24; a Missa da Noite, também conhecida como Missa do Galo, esta sim, solene (à meia-noite, preferencialmente, ou em torno dela); a Missa da Aurora, também solene (iniciando antes do raiar do sol do dia 25); e, enfim, solenemente, a principal, a Missa do Dia, celebrada bem após o nascer do sol do dia 25, em qualquer das outras horas. 

  

Mas o que me cativa hoje e me faz escrever esta singela mensagem é olhar para a Virgem Maria, sob o título que, pessoalmente, mais aprecio: Mãe de Deus. No ícone do Santo Natal, ela aparece contemplativa, mas seu olhar convida a contemplar a grandiosidade desse Mistério. Sua mão, como sempre, aponta para o Cristo. Mas é pelo título de Mãe de Deus que Maria me atrai a ela. 

  

Certa vez, após a passagem de nosso filho Gabriel José, estive pela primeira vez na Igreja Abacial do Mosteiro São João, em Campos do Jordão, em fevereiro de 2004. Lá, derramei-me em lágrimas ao ver o ícone da Eleoúsa, em grego, a Mãe da Ternura, ou, como lá está escrito em latim, Mater misericordiae. Não consegui ficar de pé, ajoelhei-me, tive uma experiência fortíssima sob o olhar da Mãe da Ternura, uma das mais fortes de minha vida. Também ela viu seu filho morrer. Mas seu olhar vai mais adiante... 

  

Seu olhar penetrante e misterioso lança primeiramente a sua ternura no olhar de quem a contempla e lembra a nossos tempos corridos a necessidade de contemplar o semblante de quem nos olha. Seu olhar poderia ser um reflexo do olhar de Deus sobre o mundo, soberano, mas humilde; sereno, mas ligeiramente preocupado e cheio de cuidados sobre Aquele que carrega nos braços. Mas o intrigante é que o olhar não se dirige diretamente a Cristo, mas à humanidade que contempla o ícone. 

  

Carregando a Cristo nos braços, Maria carrega a humanidade inteira. Em seus braços está o Futuro, o Fim, o Centro de tudo. É aquele Menino, que é Deus, e carrega um rolo, aquele rolo do Apocalipse, que somente Ele é digno de abrir. Em outras palavras, somente Cristo é chave de leitura para as Escrituras, e não somente para elas, mas para o próprio livro de nossas vidas. Aquele Menino traz nos braços tudo isso. Seu nascimento traz para a humanidade um sentido, porque se o Sentido de tudo é Este que se encontra nos braços de Maria, tudo, absolutamente tudo, inclusive a morte e tudo aquilo que parece ser sem sentido no nosso dia-a-dia é habitado pelo sentido. Ele, em sua encarnação, superior a todas as montanhas, físicas, morais e espirituais, desceu até os mais profundos abismos, físicos, morais e espirituais. Não há lugar nem tempo nesta nossa vida em que não esteja Cristo Senhor, aquele mesmo que nasceu em Belém e já muito antes, bem antes, sem ela saber, havia encantado o coração da Virgem. 

  

E somente porque trouxe de maneira absoluta o Verbo de Deus em seu coração, nas mais profundas dimensões de seu ser, é que pôde se tornar grávida de Deus. Em sua ternura, Deus dirige uma palavra a ela, através do grande mensageiro, o Arcanjo Gabriel, como se a pedisse em casamento: “Kaire, kecharitómene!”, ou seja “Enche-te de imensa, estupenda, inefável, incomensurável alegria, ó tu, que já estás completamente preenchida do favor, da graça e sobretudo da presença de Deus!” Todas as poesias do pós-exílio de Babilônia que os santos profetas anunciaram apontavam para este Mistério. Muito inequivocamente o Profeta Isaías, no capítulo 62, dirige uma palavra à Filha de Sião (a Jerusalém pós-exílica, livre do jugo de Babilônia) que inequivocamente os cristãos a vêem dirigida a Maria, como modelo de plenitude da alma cristã: “Nunca mais te chamarão ‘Desamparada’, nem se dirá de tua terra ‘Abandonada’; mas haverão de te chamar ‘Minha querida’, e se dirá de tua terra ‘Desposada’, porque o Senhor se agradou muito de ti, e tua terra há de ter o seu esposo. Como um jovem que desposa a bem amada, assim também, teu Construtor vai desposar-te; como a esposa é a alegria do esposo, serás, assim, a alegria do teu Deus” (Is 62,4-5). 

  

Quando tão glorioso anjo vai a Maria, Deus diz a ela tudo o que quis dizer à humanidade, a mim, a você, não apenas com palavras, mas com um gesto, o único eficaz, capaz de abrir nossa vida a algo que o mundo não pode por si mesmo oferecer. Quando o mensageiro da graça lhe vem, Deus lhe pede em casamento, mostrando que a natureza divina não existe de maneira fechada, mas apenas numa contínua e eterna abertura ao que é humano, terrivelmente humano. E nessa ocasião o anjo diz algo grandioso, aliás o próprio significado do nome do anjo: “para Deus, nada é impossível!” 

  

Se, por um lado, Maria reflete humildemente sobre sua indignidade e sobre a incapacidade de gerar sem o toque de um homem, por outro, no Mistério da Anunciação do Senhor, ela encontra a possibilidade de se abrir completamente, de tal modo a tomar o impossível como possível. Porque possibilidade não é apenas o que pode ser racionalizado pela ciência, viabilizado pela tecnologia ou mesmo delineado pelas artes, mas sempre um algo mais que se abre e recebe o nome de esperança. 

  

Assim, a fé de Maria, seu ser impregnado de uma vontade maior que a sua e que a contém se mostra em esperança, mas mesmo sem saber, já era amor. Quando o anjo lhe diz tudo o que tem de dizer, Maria prontamente diz: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim, segundo a tua palavra!” E o evangelista Lucas narra: “E o anjo retirou-se!” 

  

Sim, meus irmãos, o anjo se retira para que agora se concretizem as núpcias entre Deus e ela, entre o céu e a terra. O anjo se retira em discrição porque ali há de se dar um encontro conjugal misterioso. Esses encontros sempre são misteriosos e reservados!!! Porque assim como a vinda de qualquer um de nós à terra é um fato grandioso, um acontecimento estremecedor, a vinda do Filho de Deus como Filho do homem, no ventre de Maria, é algo infinitamente mais grandioso, estremecedor, terrificante. São Leão Magno se enche de admiração e estupor ao dizer: “Ó admirável intercâmbio: o Filho de Deus se faz Filho do homem para que os filhos dos homens se tornem filhos de Deus!” 

  

Desse momento em diante, um sinal indelével está presente na humanidade. Deus está nela, como sempre sonhou. O profeta Jeremias dizia que a aliança que seria firmada não a seria mais em tábuas de pedra, mas no coração, no íntimo do ser humano. Em Maria, dá-se o encontro íntimo entre Deus e a humanidade. 

  

Volto-me agora para a lembrança do olhar da Virgem Mãe. Que quer dizer esse olhar? Por que tanta ternura? Porque ela mesma foi o espaço para se concretizar a ternura de Deus. Há um hino antiqüíssimo, cantado nas memórias dos santos, que diz: “Jesus Cristo, ternura de Deus, por quem somos votados ao Pai”. Se Maria é a Mãe da Ternura, a Ternura é Cristo. Sim, a ternura muitas vezes manifestada num casal é simbolizada num anel, numa aliança. Aqui, a Aliança é Cristo, prova do amor de Deus para conosco, “rosto divino do homem, rosto humano de Deus”, como dizia o Servo de Deus Paulo VI, Papa. Eis a Ternura, eis a fonte do coração de Maria, eis o que transborda do olhar de Maria. 

  

E, afinal de contas, poderia ser diferente? Marcada tão intensamente pelo Santo Deus, e confirmada em sua vocação no dia da concepção de Cristo, onde lhe foi dado conhecer mais daquilo que ela mesma trazia em si, o olhar de Maria é o olhar da Ternura de Deus. Foi esse olhar que Cristo criança aprendeu a olhar. É tão impressionante! Aquele que é a “Sabedoria, saída da boca do Altíssimo” (como cantamos na tarde do dia 17) se torna um aprendiz do olhar. É esse olhar que ele lança sobre a humanidade, é esse semblante que paira sobre nós. E, se de alguma forma falamos em ira de Deus, como naquele olhar irado de um dos olhos do ícone de Cristo do Mosteiro de Santa Katarina de Alexandria do Monte Sinai, poderíamos vê-la muito bem expressa quando ele olha para Jerusalém e chora sobre ela (conforme um texto que enviei há cerca de um mês). A ira de Deus está presente no olhar preocupado de Maria, assim como no de Cristo, que chora as desventuras humanas. Tudo o que quer é apenas que sejamos plenos! 

  

Voltemos mais uma vez ao olhar de Maria. Foram esses olhos, como que olhos do coração, que contemplaram o anúncio do anjo, a alegria de Isabel, o acolhimento de José, o nascimento do Santo Profeta João Batista e, na noite Santa, seu parto, cantado pelos anjos, admirado pelos pastores, adorado pelos Magos, luminoso como a estrela, glorioso, como o próprio Deus. 

  

Caros irmãos, nesta Semana Santa do Natal, em que visitamos mais freqüentemente a imagem da Virgem Mãe de Deus, seja nas pinturas ou esculturas, seja na prece, especialmente as novenas de Natal e o Santo Rosário, seja ainda nos textos da Sagrada Escritura, da Tradição e da Liturgia, quero desejar a todos vocês, que fazem, parte de minha vida, e são tão amados por esse Deus de desígnios tão cheios de graça, ternura e misericórdia, um Feliz e Santo Natal, pelas mãos da Virgem, Mãe de Deus! 

Que a Noite Santa seja um marco na vida de todos, lembrando que Ele nos amou por demais. Ou, como diz uma versão do “Adéste, fidéles!”, em português: “tanto amou-nos; quem não há de amá-lo?” 

  

A Ele, a glória, no céu e na terra, no tempo e na eternidade, hoje e pelos séculos dos séculos. Amém! 

  
Emerson Sarmento Gonçalves
a 19 de dezembro de 2008, Semana Santa do Natal.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO VII - Momento histórico


Embora já faça algum tempo que este fato ocorreu, merece menção.

 

S. Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla participa, em Roma, da XII Assembléia Geral Ordinária dos Bispos


No dia 18 de outubro de 2008, às 17 horas, na Capela Sistina, por ocasião da participação do Patriarca Ecumênico, na XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, S. Santidade Bento XVI presidiu a celebração das Primeiras Vésperas do XXIX domingo do Tempo Comum ‘per annum’. Dela participaram S. Santidade Bartolomeu I, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, os membros da Presidência do Sínodo dos Bispos, 60 Cardeais e Patriarcas latinos, 170 Arcebispos e Bispos, 200 presbíteros, religiosos e leigos participantes da XII Assembléia Geral Ordinária dos Bispos.


INTERVENÇÃO DE S. S. BARTOLOMEU I
PATRIARCA ECUMÊNICO DE CONSTANTINOPLA 

Tradução: Pe. Paulo Augusto Tamanini 

Santidade,
Padres Sinodais,

 

É, ao mesmo tempo, com humildade e entusiasmo, que acolho o amável convite de Sua Santidade e dirijo os meus melhores auspícios a esta XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos - um encontro histórico dos Bispos da Igreja Católica Romana de todo o mundo-, reunidos neste lugar para meditar sobre a «Palavra de Deus» e tratar sobre a experiência e a expressão desta Palavra «na vida e na missão da Igreja». Este gentil convite de Sua Santidade, a quem modestamente falamos, é um gesto pleno de significado e importância - ouso dizer: um importantíssimo evento histórico. É a primeira vez, na história, que é dado a um Patriarca Ecumênico a oportunidade de se dirigir a um Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Romana e, assim, fazer parte da vida de sua Igreja-irmã, em seu mais alto nível. Vemos isto como uma manifestação da obra do Espírito Santo que guia nossas Igrejas para que se aproximem e aprofundem suas relações, respectivamente, um passo importante para a restauração de nossa plena unidade. 

É de conhecimento geral que a Igreja Ortodoxa atribui ao sistema sinodal uma fundamental importância eclesiológica. Com o primado, a «‘sinodalidade» constitui a coluna vertebral do governo e da organização da Igreja. Como bem expressou nossa Comissão Internacional para Unidade do Diálogo Teológico entre nossas Igrejas, no Documento de Ravena, esta interdependência entre o Primado e a Sinodalidade perpassa todos os níveis da Igreja: local, regional e universal. Por isso, ao ter no dia de hoje o privilégio de nos dirigir ao vosso Sínodo, cresce a nossa esperança de que chegue o dia em que ambas as Igrejas convirjam plenamente sobre o papel do primado e da sinodalidade na vida da Igreja, matéria que é hoje objeto de estudos de nossa Comissão Teológica. 

O tema, ao qual este Sínodo dos Bispos dedica seus trabalhos, tem importância crucial, não só para a Igreja Católica Romana, mas também para todos aqueles que são chamados a testemunhar Cristo em nosso tempo. Missão e evangelização continuam sendo um dever permanente da Igreja de todos os tempos e lugares. De fato, são partes constitutivas da natureza da Igreja que, por isso, é denominada «Apostólica», no sentido de sua fidelidade aos ensinamentos originais dos apóstolos, proclamando a Palavra de Deus em todos os tempos e em todo contexto cultural. A Igreja precisa, então, redescobrir a Palavra de Deus em cada geração, e anunciar com renovados vigor e persuasão ao nosso mundo contemporâneo, que tem sede da mensagem de paz, da esperança e da caridade divina.

Este dever de evangelização, com efeito, será grandemente valorizado e reforçado na medida em que todos os cristãos sejam capazes de realizá-lo a uma só voz e numa só e única Igreja. Em sua prece ao Pai, antes de sua Paixão, Nosso Senhor expressou claramente que a unidade da Igreja é indestrutível, no que concerne à sua missão: «Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste». (Jo 17,21). Por isso, o Sínodo abre suas portas aos delegados da fraternidade ecumênica, para que todos estejamos conscientes da missão comum de evangelizar, bem como, para que conheçamos as dificuldades e problemas de sua execução no mundo atual. Sem dúvidas, este Sínodo estudou o tema da Palavra de Deus em profundidade, em seus aspectos teológicos, práticos e pastorais. 

Nesta nossa modesta intervenção, compartilhamos convosco algumas reflexões sobre o tema deste evento, delineando o modo como, ao longo de séculos, a Tradição Ortodoxa o tem enfocado e, em particular, seguindo o ensinamento da patrística grega. Quiséramos nos concentrar mais concretamente em três aspectos: a escuta e o anúncio da Palavra de Deus através das Sagradas escrituras; a contemplação da Palavra de Deus na natureza e na beleza dos ícones; e, por último, a experiência e a partilha da Palavra de Deus na comunhão dos santos e na vida sacramental da Igreja. Pensamos que estes aspectos sejam cruciais para a vida e a missão da Igreja.

Para tanto, façamos uso da rica Tradição Patrística, elaborada no início do terceiro século, para expor a doutrina «dos sentidos espirituais». Escutar, contemplar e tocar a Palavra de Deus, são maneiras espirituais de perceber o único Mistério Divino. Com base no livro dos Provérbios (Prov 2,5), a propósito da «divina faculdade de percepção», Orígenes de Alexandria afirma: «Os sentidos se revelam como: visão para contemplar as formas imateriais, audição para discernir as vozes, paladar para saborear o pão vivo, olfato para sentir a fragrância espiritual e o tato para tocar a Palavra de Deus, que é aproveitada por cada uma das faculdades de nossa alma». Os sentidos espirituais são descritos de maneiras diversas, tais como: «cinco sentidos da alma», «faculdades divinas», ou «faculdades interiores», «faculdades do coração» ou «faculdades do espírito». Esta doutrina inspirou a teologia dos Padres Capadócios (especialmente Basílio, o Grande e Gregório de Nissa), da mesma forma, os Padres do Deserto (especialmente Evágrio Pôntico e Macário, o Grande)

1. A Escuta e o Anúncio da Palavra de Deus através das Escrituras

Em cada celebração da Divina Liturgia de São João Crisóstomo o celebrante, que preside a Eucaristia, reza: «que sejamos dignos de escutar o Santo Evangelho». «O que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida» (1Jo 1,1), não por nossas faculdades ou direitos, como seres humanos que somos, mas como um privilégio e um dom que herdamos como filhos do Deus Vivente. A Igreja cristã é, antes de tudo, uma Igreja da Escritura. Ainda que os métodos de interpretação variem de um Pai da Igreja para outro, de uma Escola para outra, no Ocidente ou no Oriente, a Escritura foi sempre acolhida como realidade viva e jamais como um livro morto. Portanto, neste contexto de fé viva, a Escritura é o testemunho vivo da História vivida, da relação de Deus vivo com seu povo vivo.

A Palavra «que falou pelos Profetas» (Credo Niceno-Constantinopolitano) é dita para que seja escutada e produza seus efeitos. É, antes de tudo, uma comunicação oral e direta que tem como destinatário o ser humano. O texto escrito é, portanto, derivado e secundário e está sempre a serviço da Palavra proclamada. Ela não é transmitida de maneira mecânica, mas comunicada de geração em geração e, por isso, é Palavra viva. Pela boca do Profeta Isaias, o Senhor promete: «Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão». (Is 55,10-11) 

Ademais, como explica São João Crisóstomo, a Palavra divina demonstra profunda consideração para com a diversidade pessoal e contextos culturais de quem a escuta e a acolhe. A adaptação da Palavra divina à capacidade específica pessoal e ao contexto cultural particular define a dimensão missionária da Igreja que está chamada a transformar o mundo pela Palavra. No silêncio, como através de declarações, na oração como na ação, a Palavra Divina é endereçada ao mundo inteiro («De todas as nações fazei discípulos» Mt 28,19), sem distinção de raça, cultura, gênero ou classe.

Quando estamos determinados a cumprir o mandato divino, sentimo-nos seguros, pois, como disse o Senhor: «Eu estarei convosco todos os dias» (Mt 28,20). Somos chamados a proclamar a Palavra Divina em todas as línguas, pois, «com os fracos, tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo». (1Cor 9,22).

Como discípulos da Palavra de Deus, hoje, mais do que em todos os tempos, temos o imperativo de oferecer perspectivas – para além do social, do político e do econômico – na medida da necessidade, de erradicar a pobreza, promover o equilíbrio do mundo global, combater o fundamentalismo e o racismo e promover a tolerância religiosa num mundo em conflito. 

Ao responder às necessidades dos pobres, dos marginalizados e vulneráveis deste mundo, a Igreja pode revelar–se como referência marcante no espaço da comunidade global. Embora a linguagem teológica da religião e da espiritualidade seja diferente dos vocabulários técnicos da economia e da política, as barreiras que, num primeiro momento, parecem separar as preocupações religiosas (tais como pecado, salvação e espiritualidade) dos interesses pragmáticos (tais como negócio, comércio e política) não são impenetráveis face aos muitos desafios da globalização e da justiça social.

No que concerne ao meio ambiente, a paz, a pobreza, a fome, a educação e a saúde, há atualmente uma maior preocupação e responsabilidade partilhada que é percebida como uma característica forte de pessoas de fé, mesmo que suas perspectivas sejam expressamente de cunho secular ou laica. De nenhuma maneira nosso compromisso para com estas questões reduz ou suprime as diferenças que existem entre as várias disciplinas ou está em desacordo com aqueles que vêem o mundo de maneira distinta. Apesar disso, hoje se favorece uma responsabilidade crescente e comum em vista do bem estar da humanidade. É o encontro entre indivíduos e instituições que atuam no mundo como um bom sinal. É o compromisso que acentua a suprema vocação e missão dos discípulos e seguidores da Palavra de Deus, que transcende as diferenças políticas e religiosas para transformar, por inteiro, o mundo visível para a glória de Deus invisível.

2. Contemplar a Palavra de Deus: a Beleza dos ícones e da Natureza.

Em nenhum outro lugar o Invisível se faz mais visível que na beleza da iconografia e na maravilha da Criação. Nas palavras do defensor das imagens sagradas, São João Damasceno: «Enquanto Criador do céu e da terra, Deus, a Palavra, foi o primeiro que pintou e retratou os ícones». Em cada pincelada de um iconógrafo - como em cada palavra de um conceito teológico, em cada nota musical de uma salmodia, em cada pedra talhada de uma pequena capela ou de uma grande catedral é expressa a Divina Palavra da criação que louva a Deus em cada coisa e em cada ser vivente (Sl 150,6).

Ao instituir as imagens sagradas, o Sétimo Concilio Ecumênico de Nicéia não se preocupava com a arte religiosa; estava instituindo e confirmando as primeiras definições sobre a plenitude humana da Palavra de Deus. Os ícones nos recordam visivelmente nossa vocação divina; convidam-nos a que nos elevemos para além de nossas triviais preocupações e ínfimas reduções do mundo. Alenta-nos a buscar o extraordinário no realmente ordinário; alenta-nos a estar plenos do mesmo assombro que caracterizou a maravilha divina no Gênises: «Viu Deus quanto tudo havia feito e viu que tudo era muito bom» (Gn 1,31). A palavra grega para significar «bondade» é «κaλλóς» que remete - etimologicamente e simbolicamente - ao sentido de «chamado». Os ícones sublinham a missão fundamental da Igreja, de reconhecer que todas as pessoas e todas as coisas foram criadas para ser, e estão chamadas a ser boas e belas.

Com efeito, os ícones nos recordam outro modo de ver as coisas, outro modo de experimentar realidades, outro modo de resolver conflitos. Somos chamados a assumir aquilo que a hinografia do Domingo de Páscoa denomina de «outro modo de vida», uma vez que temos nos comportado de maneira arrogante e desastrosa com a criação. Temos recusado contemplar a Palavra de Deus presente nos oceanos de nosso Planeta, nas árvores de nossos continentes e nos animais de nossa terra. Temos renegado nossa verdadeira natureza que nos convida a escutar a Palavra de Deus na criação, se desejamos ser partícipes da natureza divina (2Pd 1,4) Como podemos ignorar as amplas implicações da Palavra Divina que se fez carne? Por que não conseguimos perceber a natureza criada como extensão do corpo de cristo? 

Os teólogos cristãos do Oriente sempre ressaltaram as proporções cósmicas da encarnação divina. A Palavra encarnada é intrínseca à criação que veio à existência através da palavra divina. São Máximo, o Confessor, insiste na presença da Palavra de Deus em todas as coisas (Col 3,11); o Logos divino está no centro do mundo revelando misteriosamente seu princípio original e sua finalidade última (1Pd 1,20). Este é o mistério descrito por Santo Atanásio de Alexandria: «o Logos não está contido em nada, mas contém todas as coisas; está em cada coisa, porém, fora de cada coisa» (...) o Primogênito de todo o mundo em cada um de seus aspectos.

O mundo inteiro é um «Prólogo ao Evangelho de São João». E quando a Igreja não reconhece as dimensões mais amplas, cósmicas da Palavra de Deus, restringindo suas preocupações aos problemas puramente espirituais, ela falha em sua missão de implorar a Deus para que transforme – sempre e em todo lugar «em todas as partes de seu domínio» – todo o universo poluído. Não há quem não se maravilhe quando, na celebração pascal, em seu cume, os cristãos ortodoxos entoam: «agora tudo está repleto de luz: o Céu, a terra e o inferno. Alegre-se toda a criação!» 

Toda «ecologia profunda» e autêntica está indissoluvelmente unida à teologia profunda. »Mesmo uma pedra» – diz São Basílio, o Grande - «ostenta o selo da Palavra de Deus». A mesma verdade se aplica a uma formiga, a uma abelha, a um mosquito; aos menores seres da criação. Pois, Ele se estende do grande céu aos imensos mares; Ele que criou a ínfima cavidade do aguilhão de uma pequena abelha. Recordar nossa pequenez na vasta e maravilhosa criação de Deus sublinha, unicamente, nosso papel central no desígnio de Deus para a salvação do mundo inteiro. 

3. Tocar e compartilhar a Palavra de Deus: a Comunhão dos Santos e os Sacramentos da Vida

A Palavra de Deus se «move para fora de si mesma, em êxtase» (Dionísio, o Aeropagita) de modo persistente, buscando apaixonadamente «habitar entre nós» (Jo 1,14), para que o mundo possa ter vida em abundância (Jo 10,10). 

A misericórdia compassiva de Deus é derramada e compartilhada «para que multiplique os objetos de sua beneficência» (São Gregório, o Teólogo). Deus assume tudo o que é nosso, «tem sido provado em tudo como nós, exceto no pecado» (Hb 4,15), para nos oferecer tudo o que é de Deus e converter-nos, pela graça, em deuses. «Por vós, Ele se fez pobre a fim de enriquecer-vos por sua pobreza», escreve o grande apóstolo Paulo (2 Cor 8,9) a quem dedicamos precisamente o ano em curso. Isto é Palavra de Deus; a quem devemos gratidão e glória.

A Palavra de Deus recebe sua plena encarnação na Criação e, sobretudo, no Sacramento da Sagrada Eucaristia. Nela, a Palavra de Deus se faz carne e nos permite, não simplesmente ouvi-La ou vê-La, mas tocá-La com nossas próprias mãos, como declara São João (1 Jo 1,1), fazendo-nos partícipes de seu próprio Corpo e Sangue (σύσσωμοι και σύναιμοι), como diz São João Crisóstomo. 

Na Sagrada Eucaristia, escutamos a Palavra e, ao mesmo tempo, a vemos e a compartilhamos (κοινωνία). Não é mera casualidade que nos primeiros documentos sobre a Eucaristia, como o livro da Revelação e a Didaqué, a Eucaristia tenha sido associada à profecia, e os bispos que a presidiam eram vistos como os sucessores dos Profetas (Policarpo, o mártir). 

A Eucaristia já foi descrita por São Paulo como anúncio da morte de Cristo e de sua Segunda Vinda (1Cor 11). Posto que a finalidade última da Escritura seja essencialmente a proclamação do Reino e o anúncio das realidades escatológicas, a Eucaristia é uma antecipação do Reino e, neste sentido, é a proclamação da Palavra por excelência. Na Eucaristia, Palavra e Sacramento se convertem numa única realidade. A Palavra deixa de ser «palavras» e se faz «pessoa», encarnando-se em todos os seres humanos e em toda a Criação. 

Na vida da Igreja, o esvaziar-se de si mesmo de forma incomensurável (κένωσις) e o compartilhar generoso (κοινωνία) do Logos divino se reflete na vida dos Santos, como experiência tangível e expressão humana da Palavra de Deus em nossa comunidade. Neste sentido, a Palavra de Deus se converte em Corpo de Cristo, crucificado e glorificado ao mesmo tempo. Conseqüentemente, o Santo vive uma relação orgânica com o Céu e com a Terra, com Deus e com a Criação. Numa luta ascética, o santo reconcilia a Palavra e o mundo. Mediante o arrependimento e a purificação, o santo se enche de compaixão por todas as criaturas, o que corresponde à suprema humildade e perfeição, como sublinha Santo Isaac, o Sírio.

Por isso, o santo ama incondicionalmente, com uma intensidade e magnitude irresistíveis. Nos Santos conhecemos a Palavra de Deus, uma vez que, como afirma São Gregório Palamás, «Deus e seus Santos compartilham a mesma glória e esplendor». Na discreta presença de um santo descobrimos que a Teologia e a ação coincidem. No amor compassivo de um santo fazemos a experiência de Deus como «nosso Pai» e da Sua misericórdia como «eterna» (Sl 135). O Santo é consumido pelo fogo do amor de Deus, e, por isso, ele comunica a graça e não tolera a menor manipulação ou exploração da sociedade ou da natureza. O santo faz, simplesmente, o que é justo e bom (Divina Liturgia de São João Crisóstomo), dignificando sempre a humanidade e honrando a Criação. «Suas palavras têm a força da ação e o seu silêncio tem o poder do discurso». (Santo Inácio de Antioquia).

E, na Comunhão do Santos, cada um de nós é chamado a «ser como fogo» (Apotegmas dos Padres do Deserto), para tocar o mundo com a força mística da Palavra de Deus, para que - como extensão do Corpo de Cristo – também o mundo possa dizer: «Alguém me tocou» (Mt 9,20). O mal somente poderá ser erradicado pela santidade, e não pela força. A santidade introduz na sociedade uma semente que a cura e a transforma. Alimentados com a vida dos Sacramentos e a pureza da oração somos capazes de penetrar o mistério mais recôndito da Palavra de Deus. Como no caso das placas tectônicas da crosta terrestre: basta que, nas camadas mais profundas, algo se mova milímetros, para causar perturbações e danos à superfície do planeta. Não obstante, para que aconteça esta revolução espiritual, necessitamos fazer a experiência radical da «metanóia» - uma conversão de comportamentos (atitudes), costumes e práticas - por termos usado ou violado a Palavra de Deus, os dons de Deus e a Sua Criação. Esta conversão é, evidentemente, impossível sem a Graça divina; simplesmente não conseguiremos, por maior que seja o nosso esforço e a nossa vontade. «Para os homens, isto é impossível; mas, para Deus, tudo é possível» (Mt 19,26).

Esta mudança espiritual se dá quando nosso corpo e nossa alma são enxertados profundamente na Palavra viva de Deus, quando nossas células contiverem o fluxo do Sangue vivificante que provém dos Sacramentos; quando estivermos abertos a partilhar tudo com todos.

Como nos recorda São João Crisóstomo: «o Sacramento de nosso próximo não pode estar separado do Sacramento do Altar». Lamentavelmente, temos ignorado nossa vocação e nossa obrigação de compartilhar. A injustiça social e a desigualdade, a pobreza global e a guerra, a contaminação do planeta e a sua degradação decorrem de nossa falta de habilidade ou vontade para compartilhar. Se reinvidicamos manter o Sacramento do Altar, não podemos então prescindir ou renunciar ao sacramento de nosso próximo, pois esta é condição fundamental para o cumprimento da Palavra de Deus no mundo, na vida e na missão da Igreja.

  

Queridos Irmãos em Cristo, 

Examinamos, no que foi dito, o ensinamento patrístico de cunho espiritual, analisando o poder de escuta e de anúncio da Palavra de Deus, nas Escrituras; o contemplar a Palavra de Deus através dos ícones e na Natureza, bem como, o tocar e compartilhar a Palavra de Deus nos Santos Sacramentos. Por conseguinte, para que permaneçamos fiéis à vida e à missão da Igreja, nós devemos ser pessoalmente transformados por esta Palavra. A Igreja deve ser semelhante a uma mãe que se nutre daquilo que se alimenta, ao mesmo tempo em que nutre quem dela se nutre.

O que não alimenta nem nutre alguém não poderá tão pouco sustentá-lo. Quando o mundo não compartilha a alegria da Ressurreição de Cristo, isto supõe uma acusação à nossa própria integridade e ao nosso compromisso por viver a Palavra de Deus. Antes de cada celebração da Divina Liturgia, os cristãos ortodoxos pedem que esta Palavra seja «partida e consumida, distribuída e compartilhada» em comunhão. E, «nós sabemos que passamos da morte para a Vida, porque amamos aos irmãos e irmãs» (1Jo 3,14). 

O desafio que temos diante de nós é o discernimento da Palavra de Deus face ao mal e a transfiguração, até o ultimo detalhe e ponto deste mundo, à luz da Ressurreição. A vitória já está presente no íntimo da Igreja, sempre que fazemos a experiência da graça da reconciliação e da comunhão. Embora lutemos, cada um e nós – no interior de nós mesmos e no mundo - para reconhecer o poder da Cruz, estamos começando a compreender o fato de que cada ato de justiça, cada centelha de beleza, cada palavra de verdade pode ir, gradativamente, eliminando o mal. Para além de nossos frágeis esforços temos, no entanto, a certeza de que o Espírito que «vem em socorro da nossa fraqueza», (Rm 8,26) e que permanece conosco como nosso defensor e «Paráclito» (Jo 14,6), penetrando todas as coisas e nos transformando, - como disse São Simeão, o Novo Teólogo - em tudo o que a Palavra de Deus diz a respeito do Reino: pérola, semente de mostarda, fermento, água, fogo, pão, vida e Sala do Banquete Místico. Eis aqui o poder e a graça do Espírito Santo que invocamos na conclusão de nossa intervenção, expressando a Vossa Santidade a nossa gratidão, e a cada um de vós, a nossa Bênção: 

«Rei Celestial, consolador, Espírito da Verdade, 
presente em toda parte e que preenche todas as coisas;
tesouro dos bens e doador da vida, 
vem e habita em nós, 
purifica-nos e toda a impureza 
e salva as nossas almas, Tu que és bom e amas a humanidade. 
Amém. 

 


Intervenção de S. S. o Papa Bento XVI

Depois da intervenção do Patriarca Ecumênico, S. Santidade o Papa Bento XVI, pronunciou as seguintes palavras:

Santidade,

De todo coração, quero lhe dizer «muito obrigado» por suas palavras. O aplauso dos padres sinodais é muito mais que uma expressão de cortesia, é verdadeiramente a expressão da profunda alegria espiritual e da experiência viva de nossa comunhão. Neste momento, vivemos realmente o «SÍNODO»: estamos juntos caminhando, na terra da Palavra divina, guiados por Vossa Santidade e nos maravilhamos, com grande alegria de sermos ouvintes da Palavra de Deus e haver deparado com o dom de suas palavras.

Tudo o que nos foi dito estava profundamente nutrido pelo espírito dos Santos Pais, pela Sagrada Liturgia e precisamente, por esta razão, estava também intensamente contextualizado em nosso tempo, por um grande realismo cristão que nos faz ver os desafios. Vimos que, ao ir ao coração da Sagrada Escritura, realmente encontramos nas palavras a PALAVRA; ao penetrar a palavra de Deus, abre também os olhos do mundo e das realidades de nossos dias.

E esta foi também uma experiência feliz – uma experiência de unidade, não perfeita talvez, porém, verdadeira e profunda. Pensei: vossos Santos Pais, que S. Santidade citou amplamente, são também nossos Santos Pais; e os nossos são também os vossos. Se temos Santos Pais comuns, como poderíamos entre nós, não sermos irmãos? Obrigado Santidade! Suas palavras nos acompanharão no trabalho da próxima semana, nos iluminarão e estaremos ainda durante a próxima semana e depois dela, juntos, convosco, caminhando.

Obrigado, Santidade!

domingo, 12 de outubro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO VI - Núpcias do Cordeiro


XXVIII Domingo do Tempo Comum - Semana IV do Saltério


Evangelho segundo S. Mateus (Mt 22,1-14.)


Tendo Jesus recomeçado a falar em parábolas, disse-lhes: «O Reino do Céu é comparável a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram comparecer. De novo mandou outros servos, ordenando-lhes: 'Dizei aos convidados: O meu banquete está pronto; abateram-se os meus bois e as minhas reses gordas; tudo está preparado. Vinde às bodas.’ Mas eles, sem se importarem, foram um para o seu campo, outro para o seu negócio. Os restantes, apoderando-se dos servos, maltrataram-nos e mataram-nos. O rei ficou irado e enviou as suas tropas, que exterminaram aqueles assassinos e incendiaram a sua cidade. Disse, depois, aos servos: 'O banquete das núpcias está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes.’ Os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos aqueles que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se de convidados. Quando o rei entrou para ver os convidados, viu um homem que não trazia o traje nupcial. E disse-lhe: 'Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’ Mas ele emudeceu. O rei disse, então, aos servos: 'Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’ Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.»


Palavra da Salvação.

Glória a Vós, Senhor!


*****


Vestir o traje nupcial

Por Santo Agostinho (345-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja


Que traje nupcial é esse de que nos fala o Evangelho? Tal traje é certamente algo que só os bons possuem, os que devem participar no festim [...]. O traje serão os sacramentos? O baptismo? Sem o baptismo, ninguém chega até Deus, mas alguns recebem o baptismo e não chegam a Deus [...] Será o altar, ou o que se recebe no altar? Mas ao receber o Corpo do Senhor alguns comem e bebem a sua própria condenação (1Co 11,29). Então será o quê, esse traje? O jejum? Também os maus jejuam. Será frequentar a igreja? Também os maus vão à igreja como os outros [...].O que é então esse traje nupcial? Diz-nos o apóstolo Paulo: «O objectivo desta recomendação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera» (1Tm 1,5). Eis o traje nupcial. Não se trata de um amor qualquer, porque por vezes vemos homens desonestos amar outros [...], mas não vemos neles aquela caridade autêntica «que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera»; ora, esta caridade é precisamente o fato de núpcias.«Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, diz o apóstolo Paulo, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine [...]. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou.» (1Cor 13,1-2) [...] Poderia ter tudo isto, disse ele; sem Cristo, «nada sou» [...]. Como são inúteis os bens, se um só deles nos faltar! Se não tiver amor, bem posso ter distribuir todos os meus bens, confessar o nome de Cristo e entregar o meu corpo para ser queimado (1Cor 13,3), que de nada me aproveita, pois posso agir assim por amor da glória [...]. «Se não tiver amor, de nada me aproveita.» Eis o traje nupcial. Examinai-vos a vós próprios: se o tiverdes, aproximai-vos confiantes do banquete do Senhor.

sábado, 11 de outubro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO V - Santa Soledade


Manuela Torres Acosta, ou Santa Soledade, nasceu em Madrid - Espanha, no dia 2 de Dezembro de 1826. A história desta santa espanhola é, antes de mais nada, um testemunho de fé e caridade perante o mundo. Morreu nessa mesma cidade, no dia 11 de outubro de 1887. Em 1851, deu início à congregação religiosa Servas de Maria, cuja finalidade era prestar ajuda aos doentes nos hospitais como enfermeiras. Santa Soledade padeceu muitas dificuldades até à implantação definitiva da nova família religiosa. Esteve presente nos momentos mais difíceis e penosos da história espanhola, como, por exemplo, na guerra civil e na epidemia de cólera de 1885. Durante a vida da santa foram fundadas 46 casas e, actualmente, as Servas de Maria encontram-se espalhadas por todos os continentes. Foi canonizada por Paulo VI em 1970.


*****


Quantos de nós se interessa pela situação de um doente. Confesso que eu não sou exemplo disso. Contudo, a Igreja não dispõe dos santos somente à título de intercessão, mas também (e à partir) do exemplo de vida deles. É o caso de Santa Soledade, cuja vida conheci há pouco.

De fato, um a fatia pequena da sociedade é formada em medicina ou enfermagem, que são pessoas que receberam do Senhor este dom e fazem uso dele pelo bem do próximo. Mas nós, mesmo sem saber lidar com o doente, clinicamente falando, podemos sim oferecer algo de nós à eles. Seja uma visita, uma demonstração de afeto, um auxílio material, simplesmente companhia... Deus espera de nós uma ação também nestes casos. É a prática da caridade fraterna, que como bem sabemos, dentre as virtudes teologais é a que prevalesce. É o momento de também lembrarmos ao doente de que este momento que passa é um momento de purificação, de profunda adesão ao Cristo sofredor. Lembrá-los que configurando suas dores às dores de Cristo na Cruz em favor de si e da humanidade pecadora obterá grandes graças do seu Sacratíssimo Coração. Um santo da Igreja, ao receber uma incumbência de Deus e sem saber como executar o que Ele queria, começou a pedir aos doentes que visitava que oferecessem suas dores ao Senhor pela sua causa. Sabia que essa prática era agradável aos seus olhos. Vejam quantas coisas podemos fazer por um doente e o quanto um doente pode fazer por nós... Voltemos nosso olhar para Cristo e peçamos à Ele um coração aberto aos nossos irmãos que estão doentes para que, inspirados por Ele, façamos da maneira que lhe aprouver as vezes dEle para nossos irmãos enfermos. Nossa Senhora da Saúde intereceda por nós. Lembremos de seu chamado provocador em Mt 25,43 "Estive doente e não fostes visitar-me".


"Em verdade, vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses mais pequenos, foi a mim que o deixaste de fazer! (Mt 25,45)"


Santa Soledade, Rogai por nós!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ANEXO AO ATO IV - Serva de Deus Antonieta Meo


Nunca ouviu falar? E de “Nennolina”, seu apelido em família? Também não? Mas não importa se já ouviu falar ou não. Por favor, leia com atenção estas poucas frases abaixo:



Querido Jesus, Tu que sofreste tanto na cruz: quero fazer muitos oferecimentos e permanecer sempre no calvário perto, perto de ti e de tua mãe (28 de janeiro de 1937).


Querido Jesus – escreve em outra ocasião –, eu te amo muito, quero me abandonar em tuas mãos. (...) Quero me abandonar em teus braços, e faze de mim o que tu quiseres; tu, ajuda-me com a tua graça, ajuda-me, que sem tua graça não posso fazer nada.


Querida Virgem, és tão boa, colhe meu coração e leva-o a Jesus. Ó Virgem, tu és a mesma de nosso coração (18 de setembro de 1936).


Quero receber Jesus das tuas mãos para ser mais digna.


Estou contente porque hoje é tua festa, querida Virgem! (...) Na tua próxima festa e a de Jesus, farei pequenos sacrifícios, e diz a Jesus que me faça morrer e antes que cometa um pecado mortal! (8 de dezembro de 1936, Solenidade da Imaculada Conceição).


Querido Jesus, Tu que sofreste tanto na cruz: quero fazer muitos oferecimentos e permanecer sempre no calvário perto, perto de ti e de tua mãe» (28 de janeiro de 1937)


Quase cem frases como estas constituem um “diário” e precioso legado de uma menina italiana, de Roma, que morreu vítima de um câncer maligno nos ossos e com grandes dores! Um dia, brincando, caiu e machucou o joelho. Mas a ferida não fechava e os médicos diagnosticaram o câncer. Tiveram de amputar-lhe a perna, e a menina passou a usar uma pesada e desajeitada prótese. Continuava alegre e viva. Começou a depositar pequenos bilhetes aos pés do Crucifixo em sua casa. No começo, eram ditados a sua Mãe, depois, escritos em sua letrinha de criança recém alfabetizada. Nasceu em 15 de dezembro de 1930, e morreu num sábado, 3 de julho de 1937, com sete anos incompletos.
Seu testemunho de fé viva e alegre, de superação da dor e do sofrimento na fé e no amor, sua viva esperança tocou os corações de familiares, amigos, pessoal médico. Logo após a sua morte, surgiu um movimento espontâneo de veneração, e as graças alcançadas fizeram que fosse iniciado o processo de beatificação. Em 17 de dezembro passado, Bento XVI autorizou a Congregação para as Causas dos Santos a promulgar os decretos que reconhecem as virtudes heróicas de oito servos de Deus que poderão chegar à honra dos altares, entre os quais se encontra a pequena Antonia. Se chegarmos à beatificação, teremos a bem-aventurada (beata), não mártir) mais jovem da Igreja! Mais jovem que Jacinta, a pequenina vidente de Fátima!
Em Roma existe a «Associação Nennolina» (http://www.nennolina.it) que, além de apoiar materialmente o processo canônico de beatificação, promove estudos e investigações sobre a vida e o pensamento da menina. O corpo de Antonietta descansa em uma pequena capela adjacente à que conserva as relíquias da paixão de Jesus, dentro da basílica da Santa Cruz em Jerusalém, na qual foi batizada e que se encontra no bairro de Roma onde passou sua breve vida.

REALIDADE PENSANTE - ATO IV - Pio XII é exemplo de abandono nas mãos de Deus


CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 9 de outubro de 2008 (ZENIT.org).- Com ocasião do 50° aniversário da morte de Pio XII, Bento XVI recordou esta quinta-feira o testemunho de Pacelli.
Segundo o Papa, o pontificado de seu antecessor «desenvolveu-se nos anos difíceis da Segunda Guerra Mundial e no período subsequente, não menos complexo, da reconstrução e das difíceis relações internacionais que passaram à história com o nome significativo de ‘guerra fria’».
A postura cultivada «constantemente» por Pio XII, recordou o Papa durante a homilia da missa celebrada na Basílica vaticana, foi a de «abandonar-se nas mãos misericordiosas de Deus», com a consciência de que «só Cristo é a verdadeira esperança do homem» e «apenas confinado nele, o coração humano pode abrir-se ao amor que vence o ódio».
Esta consciência, acrescentou, «acompanhou Pio XII em seu ministério de Sucessor de Pedro, ministério iniciado precisamente quando pairavam sobre a Europa e o restante do mundo as nuvens ameaçadoras de um novo conflito mundial, o qual ele tentou evitar de toda forma».
Durante a guerra, o Papa Pacelli levou adiante «uma intensa obra de caridade que promoveu em defesa dos perseguidos, sem distinção de religião, de etnia, de nacionalidade de pertença política», observou o pontífice.
Decidido a não abandonar nunca Roma, também quando, ocupada a cidade, lhe foi aconselhado repetidamente deixar o Vaticano para colocar-se a salvo, submeteu-se voluntariamente a «privações quanto à comida, calefação, vestes, comodidades», para compartilhar a condição da população duramente provada pelos bombardeios e pelas consequências da guerra».
Pio XII, declarou Bento XVI, «atuou frequentemente de forma secreta e silenciosa, precisamente porque, à luz das situações concretas daquele momento histórico complexo, intuía que apenas desta forma podia evitar o pior e salvar o maior número possível de judeus».
Por estas intervenções, ao término do conflito se dirigiram «muitas vítimas e unânimes reconhecimentos de gratidão», como o da ministra do Exterior de Israel, Golda Meir, que em sua morte afirmou: «Choramos pela perda de um grande servidor da paz».
Em sua homilia, Bento XVI reconheceu que, «infelizmente, o debate histórico sobre a figura do Servo de Deus Pio XII, não sempre sereno, evitou que se colocassem à luz todos os aspectos de seu polivalente pontificado».
Por isso, quis sublinhar alguns documentos importantes do Papa Pacelli, entre eles a encíclica Divino Afflante Spiritu, de 20 de setembro de 1943, que «estabelecia as normas doutrinais para o estudo da Sagrada Escritura, manifestando sua importância e seu papel na vida cristã».
«Como não recordar esta encíclica, enquanto se desenvolvem os trabalhos do Sínodo que tem como tema precisamente ‘A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja’?», perguntou o pontífice.
O Papa recordou também o «impulso notável» imprimido por Pio XII na atividade missionária da Igreja, confirmando o amor pelas missões demonstrado desde o início de seu pontificado, ordenando pessoalmente --em outubro de 1939-- doze bispos de países de missão, entre eles um chinês, um japonês, o primeiro bispo africano e o primeiro bispo de Madagascar.
Também, sublinhou, uma das «constantes preocupações pastorais» do pontífice foi «a promoção do papel dos leigos, para que a comunidade eclesial pudesse valer-se de todas as energias e recursos disponíveis».
«A santidade foi seu ideal, um ideal que não deixou de propor a todos --acrescentou. Por isso, deu impulso às causas de beatificação e canonização de diferentes pessoas, representantes de todos os estados de vida, funções e profissões, reservando amplo espaço às mulheres.»
À propósito disso, durante o Ano Santo 1950, proclamou o dogma da Assunção, indicando à humanidade a Virgem «como sinal de segura esperança».
«Neste nosso mundo que, como então, está assaltado por preocupações e angústias por seu futuro; desta forma, onde, talvez mais que então, o distanciamento de muitos da verdade e da virtude dá lugar a cenários sem esperança, Pio XII nos convida a voltar o olha para Maria assunta em glória celeste», disse Bento XVI.
«Convida-nos a invocá-la com confiança, para que nos faça apreciar cada vez mais o valor da vida na terra e nos ajude a pôr o olhar na meta à qual todos estamos destinados: a da vida eterna, que, como assegura Jesus, quem escuta e segue sua palavra já possui.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO III - Coerência


Ó tu, quem quer que sejas
que te apercebes que, no fluxo deste mundo,
vais à deriva por entre ciclones e tempestades
em lugar de avançares em terra firme,
não desvies do teu olhar esse Astro resplandecente
para não sucumbires sob a tempestade.
Quando se levanta o vendaval das tentações,
quando vais contra os recifes das tribulações,
olha a Estrela, invoca Maria!

Se és um brinquedo ao sabor das vagas do orgulho,
ou da ambição,
ou do ciúme,
olha a Estrela, invoca Maria!

Se, esmagado pela enormidade dos teus pecados,
horrorizado pela tua consciência o amolecida,
tremendo de pavor ao pensar no juízo final de Deus,
te afundas no remoinho da tristeza,
e te despenhas no abismo do desespero,
pensa em Maria!

Nos perigos, nas angústias,
ou quando assaltado pela dúvida,
pensa em Maria, invoca Maria!
Que o Seu Nome nunca se afaste dos teus lábios,
que o teu coração jamais se afaste d’Ela,
e para obter o socorro da sua intercessão,
não pares de seguir o exemplo da sua vida.
Seguindo-a, nunca te perderás,invocando-A, não desesperarás,
pensando n’Ela, não darás passos em falso.
Amparado por Ela, não cairás
sob a Sua protecção, nada recearásguiado por Ela, não te cansarás
com o Seu auxílio, chegarás ao porto da Vida.

E, assim vais experimentar quão justas são as palavras
da Sagrada Escritura: «E o nome da virgem era Maria.»



(S. Bernardo de Claraval,“Em louvor da Virgem Mãe, II, 17)


*****


Hoje é quarta-feira, meio da semana. Dia propício para refletirmos acerca da coerência de vida.
Tantas e tantas vezes ouvimos de maneira supostamente atenta a Palavra de Deus nas Missas Dominicais, ouvimos ardorosas homilias que nos enchem de ânimo e força, e no entanto nossas vidas seguem como se Deus não existisse. Resolvi escrever este breve texto justamente hoje, por ser quarta-feira, para que lembremos um fato: ainda há tempo! Se as informações e direcionamentos dados pelo sacerdote na Missa do Domingo já não nos vem mais à mente, não faz mal. Lembremos que há diversos meios para restaurarmos este contato com Deus. Usemos estes meios, sejam eles quais forem, leitura da Sagrada Escritura, recitação do Santo Terço, oração mental etc. , para que - com o perdão da comparação - enchamos nosso "reservatório" com a Graça de Deus e Ele mesmo operará as mudanças necessárias em sua vida. E saiba, deste mesmo reservatório Ele fará surgir o impulso apostólico para que mais e mais pessoas sejam envolvidas pela sua Graça. Deus quer lhe ver imerso em seu Amor, mas também quer usar-nos para transmitir o mesmo Amor. Vale lembrar que em nossas comunidades paroquiais temos Missas durante a semana, portanto, se não queremos perder essa comunhão com Deus entre um Domingo e outro, o método mais eficaz, justamente por ser a atualização do Santo Sacrifício do Calvário, onde renova-se a doação de Cristo por nós, é a participação da Santa Missa. Se é possivel ir, eu lhe digo VÁ. Não perca essa intimidade que Cristo lhe propõe diariamente. A mudança de vida por meio do transporte do que é proposto a cada celebração para as atitudes cotidianas será quase que automática. Digo quase pois Ele fará a parte dele, mas o milagre se dá somente se houver cooperação nossa. Atitude, cristãos!
Quis iniciar este texto justamente com este pequeno texto de São Bernardo de Claraval para que saibamos que ainda há um jeito de permanecermos unidos a Deus durante nossa semana, e este meio é a amizade com a Santíssima Virgem. Peçamos a Ela que interceda por nós neste dia. Que Ela alcance de Nosso Senhor a santa virtude da COERÊNCIA.

Paz a todos.

(Marcio Braga)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO II - Nossa Senhora do Rosário




Nossa Senhora do Rosário


Viva a Santa Mãe de Deus! Neste dia comemoramos este título em que através dos séculos Nossa Senhora tem sido invocada.
No início do século XIII surgiu na França uma heresia dirigida por dois senhores feudais da região de Albi que desejavam impor as suas idéias por meio das armas. Os Albigenses, como eram chamados seus sectários, queimavam as igrejas, profanavam as imagens dos santos e perseguiam os católicos espalhando o terror no sul da França. Auxiliado por alguns sacerdotes, o cônego Domingos de Gusmão foi encarregado pelo papa Inocêncio III de combater a terrível heresia e reconquistar as almas para a Igreja. Apesar de sua eloqüência e seus esforços, a má vontade dos homens era grande e São Domingos passava as noites ao pé do altar, implorando o auxílio de Deus. Certo dia, enquanto rezava em sua cela, apareceu-lhe a Virgem Maria sobre uma nuvem luminosa e ensinou-lhe um método de oração garantindo-lhe que daria resultados maravilhosos. Assim surgiu a devoção ao Rosário, composto sob a orientação da Rainha do Céu e que em pouco tempo trouxe de volta ao seio da Igreja inúmeros pecadores. São Domingos, a fim de perpetuar o esforço missionário que começara com tão férteis resultados, fundou a Ordem dos Irmãos Pregadores ou Dominicanos, com a missão de propagar a devoção do Saltério de nossa Senhora, que logo se estendeu por diversos países da Europa. A consagração definitiva do rosário foi por ocasião da famosa batalha naval de Lepanto, ganha pela Cristandade a 7 de outubro de 1571. Enquanto a armada cristã lutava desesperadamente contra os turcos, o povo em Roma rezava a oração ensinada pela Virgem Maria. A fim de imortalizar o triunfo das forças cristãs, Pio V instituiu a festa de Nossa Senhora das Vitórias, cujo nome foi mudado para Nossa Senhora do Rosário pelo seu sucessor, o papa Gregório XIII, que reconheceu no rosário a arma da vitória. No século XIX todo o mês de outubro foi dedicado pela Igreja Católica a esta piedosa oração. A invocação de Nossa Senhora do Rosário é muito divulgada no Brasil, pois existem 113 paróquias a ela dedicadas. Algumas são obras-primas da arquitetura e decoração, enquanto outras constituem apenas modestas ermidas brancas de paredes caiadas, sobressaindo ao lado do cruzeiro arraial. Todas porém são muito queridas pela população. As mais bonitas igrejas dedicadas à Virgem do Rosário são as de Ouro Preto. Um exemplo é a do Caquende, famosa pela sua forma arredondada, ostenta belíssima cantaria do Itacolomi nas faces curvilíneas. A outra, denominada Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Alto da Cruz, mais conhecida como Santa Ifigênia, é o templo definitivo da confraria de negros patrocinada pela Mãe de Deus. A ela se prende a história ou lenda do famoso Chico Rei, soba africano escravizado, que após supremo esforço conseguiu economizar o suficiente para alforriar seu filho e a si mesmo. Trabalhando os dois juntos, chegaram a libertar seus companheiros de tribo. Francisco passou a ser considerado rei de sua gente. Com o dinheiro ganho pela coletividade, adquiriu a rica mina da Encardideira, cujo lucro era repartido entre os libertos, ficando uma parte reservada para alforria dos escravos de outras nações. Recordando os bons tempos da soberania em terras africanas, criaram a festa anual do Reinado do Rosário, quando depois das cerimônias religiosas o faustoso cortejo desfilava pelas ruas de Vila Rica. Tornou-se inesquecível a cena das negras com os cabelos cobertos com o pó de ouro, lavando a cabeça na pia situada junto às portas do templo. O nobre metal depositado no fundo era recolhido como donativo para a padroeira.Não somente os pretos eram devotos da Virgem do Rosário, mas também os pardos e os brancos que construíram várias igrejas em seu louvor, como as catedrais de Itacoatiara, Paranaguá, Santos, Vitória da Conquista etc. Uma das capelas do Rosário mais antigas e ainda hoje uma das mais famosas nos meios culturais e artísticos é sem dúvida a do Embu, próxima a São Paulo. O Embu havia sido outrora uma enorme fazenda pertencente a Fernão Dias Pais, tio do "Caçador de Esmeraldas". Além de Ter dado um filho à Companhia de Jesus, o padre Malagueta, este rico proprietário doou suas terras, onde havia um aldeamento indígena, aos jesuítas para ali formarem um colégio. Segundo antigos documentos, quando a propriedade foi doada aos jesuítas, já ali havia uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário. A atual igreja foi construída em outro lugar e a estátua da Virgem parece Ter sido executada pelo padre Belchior Pontes, que conseguiu "fabricar uma imagem muito perfeita e formosa", conforme os dizeres de seu sucessor. O jesuíta não se contentou apenas em iniciar a construção da igreja e executar a efígie da Mãe de Deus, mas fez também um retábulo de talha, primorosamente lavrado e dourado, que lá se conserva até hoje. Iniciando nos fins do século XVII, o templo de Nossa Senhora do Rosário do Embu só ficou pronto muito tempo depois. O que nele se pode admirar atualmente dá uma idéia do que teria sido no século XVIII, ocasião em que se destacava de seus congêneres dos arredores pela riqueza de seus ornamentos e de suas alfaias. Grande parte daqueles bens foi confiscada após a expulsão da Companhia de Jesus por ordem de Pombal; contudo o povo divulgou uma interessante lenda a respeito. Dizem que antes de se retirarem os padres colocaram o ouro, as pratas e pedrarias num grande tacho e o atiraram das profundezas do rio que se encontra defronte à vila. Nas noites escuras ouve-se o rezar das ladainhas por vultos vestidos de preto. São os jesuítas enterrados na igreja do Rosário que velam pelo tesouro, até o dia que alguém o encontrar nas águas do ribeirão. Sigamos além das lendas populares, pois apesar do desaparecimento das alfaias e objetos de valor, a matriz de Nossa Senhora do Rosário do Embu continua a guardar inestimáveis obras de arquitetura e escultura, fielmente restauradas pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, causando admiração a todos os viajantes que procuram o tradicional templo paulista.
Iconografia:
Maria se apresenta geralmente sentada, com o Divino Filho sobre seu joelho esquerdo e segurando um rosário com a mão direita. Como a maioria das efígies da Senhora do Rosário obedecem ao estilo barroco, suas vestimentas possuem panejamentos ondulantes e com ornamentos dourados. Algumas imagens representam a Virgem Maria dando o rosário a São Domingos e em outras, além de São Domingos, aparece ainda Santa Catarina de Sena recebendo o rosário do Menino Jesus. A posição pode ser também invertida, isto é, Maria dá o rosário a Santa Catarina e Jesus a São Domingos, porém esta inversão é mais comum em painéis pintados do que em esculturas. Entre os dois santos é comum o aparecimento do simbólico "cão com archote".

*****
À recitação do Rosário é que a igreja atribui os seus maiores triunfos, e grata atesta, pela boca dos Sumos Pontífices que, “pelo Rosário todos os dias desce uma chuva de bênçãos sobre o povo cristão”(Urbano IV); “que é a oração oportuna para honrar a Deus e a Virgem, como afastar bem longe os iminentes perigos do mundo” (Sixto IV); “propagando-se esta devoção, os cristãos entregues à meditação dos mistérios inflamados por esta oração, começarão a transformar-se em outros homens, as trevas das heresias dissipar-se-ão e difundir-se-á a luz da fé católica” (São Pio V); "desejamos ver sempre mais largamente propagada esta piedosa prática e tornar-se devoção verdadeiramente popular de todos os lugares, de todos os dias" (Leão XIII).
Pensemos no amor que temos tributado a Jesus por meio da amizade com sua Santíssima Mãe. A Igreja nos dá a graça de hoje celebrarmos sua festa, onde na pessoa de Nossa Senhora analisaremos como temos amado seu Divino Filho.
Para concluir esta postagem, peço-lhes licença para postar algumas máximas do Servo de Deus João Paulo II, de saudosa memória, acerca do Santo Rosário.

1.- "Em sua simplicidade e profundidade, continua sendo também neste terceiro Milênio apenas iniciado uma oração de grande significado, destinada a produzir frutos de santidade."

2.- "O Rosário, com efeito, embora se distinga por seu caráter mariano, é uma oração centrada na cristologia. Na sobriedade de suas partes, concentra em si a profundidade de todo a mensagem evangélica, da qual é como um compêndio".

3.- "Com ele, o povo cristão aprende de Maria a contemplar a beleza do rosto de Cristo e a experimentar a profundidade de seu amor."

4.- "Mediante o Rosário, o fiel obtém abundantes graças, como recebendo-as das próprias mãos da Mãe do Redentor."

5.- "Esta oração teve um posto importante em minha vida espiritual desde minha juventude."

6.- "O Rosário me acompanhou nos momentos de alegria e nos de tribulação. A ele confiei tantas preocupações e nele sempre encontrei consolo."

7.- "Há vinte e quatro anos, no dia 29 de outubro de 1978, duas semanas depois da eleição à Sede de Pedro, como abrindo minha alma, expressei-me assim: «O Rosário é minha oração predileta. Prece maravilhosa! Maravilhosa em sua simplicidade e em sua profundidade." [...]
8.- "Hoje, no início do vigésimo quinto ano de serviço como Sucessor de Pedro, quero fazer o mesmo. Quantas graças recebi da Santíssima Virgem através do Rosário nestes anos: Magnificat anima mea Dominum! Desejo elevar meu agradecimento ao Senhor com as palavras de sua Mãe Santíssima, sob cuja proteção coloquei meu ministério petrino: Totus tuus!"
9.- "O Rosário, compreendido em seu pleno significado, conduz ao coração da vida cristã e oferece uma oportunidade cotidiana e fecunda espiritual e pedagógica, para a contemplação pessoal, a formação do Povo de Deus e da nova evangelização."

10.- "...o motivo mais importante para voltar a propor com determinação a prática do Rosário é por ser um meio sumamente válido para favorecer nos fiéis a exigência de contemplação do mistério cristão, que propus na Carta Apostólica Novo millennio ineunte como verdadeira e própria 'pedagogia da santidade': «é necessário um cristianismo que se distinga principalmente na arte da oração»."
11.- "Não se pode recitar o Rosário sem sentir-se implicados em um compromisso concreto de servir à paz, com uma particular atenção à terra Jesus, ainda hoje tão atormentada e tão querida pelo coração cristão."

12.- "No marco de uma pastoral familiar mais ampla, fomentar o Rosário nas famílias cristãs é uma ajuda eficaz para contrastar os efeitos efeitos desoladores desta crise atual."

13.- "Numerosos sinais mostram como a Santíssima Virgem exerce também hoje, precisamente através desta oração, aquela solicitude materna para com todos os filhos da Igreja que o Redentor, pouco antes de morrer, confiou-lhe na pessoa do predileto: «Mulher, eis aí o teu filho!» (Jo 19, 26)."

14.- "Maria vive olhando a Cristo e tem em mente cada uma de suas palavras: « Guardava todas estas coisas, e as meditava em seu coração » (Lc 2, 19; cf. 2, 51). As memórias de Jesus, impressas em sua alma, a acompanharam em todo momento, levando-a a percorrer com o pensamento os diversos episódios de sua vida junto ao Filhos. Foram aquelas lembranças que constituíram, em certo sentido, o 'rosário' que Ela recitou constantemente nos dias de sua vida terrena."

15.- "Quando recita o Rosário, a comunidade cristã está em sintonia com a memória e com o olhar de Maria."

16.- "...como destacou Paulo VI: «Sem contemplação, o Rosário é um corpo sem alma e sua oração corre o risco de tornar-se uma repetição mecânica de fórmulas e de contradizer a advertência de Jesus: "Quando rezardes, não sejais charlatães como os pagãos, que pensam que são escutados em virtude de sua loquacidade" (Mt 6, 7)."

17.- "Percorrer com Maria as cenas do Rosário é como ir à 'escola' de Maria para ler a Cristo, para penetrar em seus segredos, para entender sua mensagem."

18.- "...isto diz o Beato Bartolomeu Longo: «Como dois amigos, frequentando-se, costumam se parecer também nos costumes, assim nós, conversando familiarmente com Jesus e com a Virgem, ao meditar os Mistérios do Rosário, e formando juntos uma mesma vida de comunhão, podemos chegar a ser, na medida de nossa pequenez, parecidos com eles, e aprender com estes eminentes exemplos o ver humilde, pobre, escondido, paciente e perfeito»."

19.- "O Rosário nos transporta misticamente junto a Maria, dedicada a seguir o crescimento humano de Cristo na casa de Nazaré. Issso lhe permite educar-nos e modelar-nos na mesma diligência, até que Cristo «seja formado» plenamente em nós (cf. Gl 4, 19)."

20.- "O Rosário promove este ideal, oferecendo o 'segredo' para abrir-se mais facilmente a um conhecimento profundo e comprometido de Cristo. Poderíamos chamá-lo de caminho de Maria."


"Omnes com Petro ad Iesum per Mariam!!!"



segunda-feira, 6 de outubro de 2008

REALIDADE PENSANTE - ATO I - Opinião do Papa referente à crise financeira mundial



CRISE FINANCEIRA MOSTRA A IMPORTÂNCIA DA PALAVRA, explica o Papa na Meditação aos bispos no primeiro dia de trabalhos do Sínodo

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 6 de outubro de 2008 (ZENIT.org).- As atuais crises financeiras mostram a importância de construir a vida sobre o fundamento firme da Palavra, explicou Bento XVI, ao começar a primeira jornada do Sínodo dos Bispos.
«Vemos isso agora na queda dos grandes bancos: este dinheiro desaparece, não é nada. E assim todas estas coisas, que parecem a verdadeira realidade com a qual contar, e que são realidades de segunda ordem», explicou o Papa.
Sentado na parte central da Sala do Sínodo, o Papa ofereceu uma meditação durante a oração da hora terça aos 244 padres sinodais presentes sobre o Salmo 118 (119).
«A Palavra de Deus é fundamento de tudo, é a verdadeira realidade. E para ser realistas, devemos contar com esta realidade», assegurou o pontífice.
«Devemos mudar nossa idéia de que a matéria, as coisas sólidas, que tocamos, sejam a realidade mais sólida, mais segura», exortou.
Recordou que no final do Sermão da Montanha, Jesus fala das duas possibilidades de construir a casa de nossa própria vida: sobre a areia e sobre a rocha.
«Sobre a areia constrói quem só constrói sobre as coisas visíveis e tangíveis, sobre o êxito, sobre a carreira, sobre o dinheiro. Aparentemente, estas são as verdadeiras realidades. Mas tudo isso um dia passará», assegurou.
«E assim todas estas coisas, que parecem a verdadeira realidade com a qual contar, e que são realidades de segunda ordem. Quem constrói a vida sobre estas realidades, sobre a matéria, sobre o êxito, sobre tudo o que parece ser, constrói sobre a areia», explicou.
«Só a Palavra de Deus é o fundamento de toda a realidade, é estável como o céu e mais que o céu, é a realidade. Portanto, devemos mudar nosso conceito de realismo. Realista é quem reconhece na Palavra de Deus, nesta realidade aparentemente tão frágil, o fundamento de tudo.»
O arcebispo Claudio Maria Celli, presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, explicou depois aos jornalistas que a Palavra convida a ver a economia e as finanças como «uma realidade penúltima».
«É inegável que as demais realidades, quando comparadas com a Palavra, revelam seus limites. São verdades penúltimas, mas não são a verdade última», explicou em uma coletiva de imprensa concedida após a primeira congregação geral do Sínodo.
«O tema de fundo que o Papa tratou não era a atual situação econômica, era a importância da Palavra de Deus no caminho do homem. E, a partir desta luz, as demais dimensões são como névoa e demonstram sua inconsistência», concluiu o arcebispo.

*****
O Cristo nos advertia para que não ajuntássemos tesouros onde a traça e a ferrugem corrói. Pedia que antes ajuntássemos tesouros no Céu, onde os ladrões não minam enm roubam, pois onde está nosso tesouro, aí está o nosso coração. Qual a fonte destas palavras? A PALAVRA DE DEUS. Sabiamente o Espírito Santo - fonte de toda a Sabedoria - suscitou no coração da Igreja a necessidade de promover a Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos para justamente pensar em novas maneiras de se - com aliberdade do termo - trabalhar a Palavra de Deus entre os povos.
O que resta diante desta crise é a indagação que nos persegue a partir de agora: "Qual a base em que procuramos firmar nossos pés para vivermos? Será a tendência transitória de um investidor? Ou os riscos de uma moeda estável? Ou será que firmamos nossos pés em contratos até então inabaláveis? Onde nos fixamos, para assim podermos ver o que nos restará diante desta crise?"
A questão é a percepção que o homem de hoje - hedonista - tem de solidez. Com base neste princípio pífio de prazer sem medidas unicamente útil para o momento, o que é Eterno (ou Aquele que é) torna-se invisível.
Coloquemos nossas cabeças em atividade para refletirmos sobre esta base em que devemos fixar-nos: A PALAVRA DE DEUS.
(Marcio Braga)
*****
As cartas estão na mesa para esmiuçarmos estes pensamentos do Santo Padre acerca da crise mundial frente à necessidade premente de apoiarmo-nos na Palavra de Deus.
Eu os aguardo nessa Realidade Pensante!

REALIDADE PENSANTE - Intro


Começamos hoje uma nova etapa!


Abrimos este espaço onde cabeças a 1000 por hora fervilharão em temas envolventes. Assunto não nos faltará, isso é fato.


É o momento de deixarmos de lado esta visão de mundo meramente simplista que envolve nossos dias e demonstrarmos nossa preocupação em trazer à tona esses tais MELHORES DIAS que bem sabemos serem possíveis.


*****


O Conceito


Um espaço diferenciado onde poderemos conversar sobre nossas visões quanto à realidade buscando sempre guiá-la à luz da Verdade. Uma maioria ignorante rege opiniões nada valorosas para a sociedade moderna. É tempo de considerarmos a utilidade de nossos cérebros em prol de nosso progresso enquanto sociedade. Para isso, deixaremos sempre uma dose de bom humor e surpresas em nosso caminho de pessoas que almejam um mundo novo.

Bem vindo à Realidade Pensante.